Já faz algumas semanas que o uso do formol em produtos capilares voltou a ser assunto na imprensa e nos salões de beleza. Apesar de concordar com a Anvisa de que a substância é prejudicial à saúde, sou daquelas que acredita que cada um deve cuidar do que põe na cabeça.
Talvez por ser adepta a um estilo ‘afro hair’ (estou muito longe de ser uma Vanessa da Mata, ainda que tenhamos sobrenomes parecidos.) e sentir calafrios só de escutar a palavra ‘chapinha’, meu dilema é outro: comprar xampu para cabelo.
A princípio, não tem nenhum mistério: você se dirige a algum supermercado ou drogaria, escolhe o produto de sua preferência, paga por ele e volta para casa feliz da vida. Seria simples assim se não fosse um pequeno detalhe: o exagero de mercadorias que pipocam na sua frente com suas embalagens ‘bonitinhas e atraentes’.
Se a justificativa é a de que os cabelos não são todos iguais, com perdão do chavão, ‘a gente está careca de saber’. E não por acaso, desde sempre a indústria de cosméticos tratou de desenvolver produtos específicos para cada um deles: cabelos lisos, cacheados, crespos, danificados, oleosos, opacos, quebradiços, secos, ressecados, tingidos, frágeis, desvitalizados, com mechas, expostos ao Sol…
E para quem não se identifica com nenhuma das categorias citadas acima, existe a possibilidade de comprar xampu de acordo com a cor (claro, escuro, loiro, vermelho, preto, grisalho, etc) ou o tamanho do cabelo – longo, médio e curto. Além de versões mais práticas como ‘cabelos normais’ e ‘para todos os tipos’.
Até aí tudo bem. É bom mesmo que haja alternativas de tratamentos capilares para aqueles dias em que a gente acorda com vontade de arrancar até o último fio. Porém, a situação começou a complicar quando alguém, sabe-se lá quem, resolveu dar vida à cabeleira: cachos COMPORTADOS, lisos RADIANTES, pretos LUMINOSOS, fios REBELDES, lisos PERFEITOS… Ah, tem também o tal do xampu ANTI-ESTRESSE, cujo efeito desconheço.
Num mundo em que as coisas estão sempre mudando, chegamos finalmente à era dos conceitos. Como dizem nossos coleguinhas da publicidade, hoje não se vendem mais produtos, mas as ideias que por detrás deles. É só prestar atenção nos xampus que abarrotam as gôndolas e prateleiras: ‘pureza refrescante’, ‘vitalidade e equilíbrio’, ‘reconstrução estrutural’, ‘crescimento fortificado’, ‘nutrição absoluta’ e ‘cuidado clássico’. Descobriu qual é o seu?
Verdade seja dita, o ato de consumir envolve muitos significados. No prefácio de O mundo dos bens, para uma antropologia do consumo, de Mary Douglas e Baron Isherwood; o antropólogo Everardo Rocha explica que “o consumo é algo ativo e constante em nosso cotidiano e nele desempenha papel central como estruturador de valores que constroem identidades, regulam relações sociais, definem mapas culturais”.
Mary Douglas ensina também que os bens são neutros e seus usos são sociais. Se é assim, que alternativa resta a nós consumidores se não escolher o xampu pelo cheiro, pela embalagem ou pela marca? É nessas horas que me recordo daquela propaganda conhecida: ‘Xampu só lava os cabelos. Condicionador é só…’ Por favor, sem merchandising!
Não é o que se passa na cabeça da maioria das brasileiras. Outro dia ouvi um especialista contar que em nenhum outro país o processo de lavagem dos cabelos inclui tantas etapas como acontece no Brasil. Daí servirmos de ‘cobaias’ para muitos produtos que estão em fase de teste. Entre o xampu e o condicionador, já há quem use o pós-xampu e o xampu hidratante. Além de outros cosméticos como defrizantes, máscaras capilares, neutralizantes e os cremes de pentear, que a gente compra e mal sabe para o que serve.
O cardápio é ainda mais variado para quem persegue o liso a qualquer preço. O consumidor pode optar pelas escovas de frutas (morango, maracujá, frutas vermelhas), chocolate, milk, mel, menta, floral, progressiva, definitiva, inteligente, fotônica, de luz, de ouro, de aminoácido, marroquina, japonesa e francesa. Ufa!
Para encurtar a história, uma dona de casa me indicou uma receita bem simples: “Lava logo com sabão de coco que o cabelo fica uma maravilha”. Alguém arrisca? Volto segunda-feira.
Haja dinheiro pra fazer tantas escovas…o meu salário que o diga!rs
Vou colocar essa matéria no salão onde frequento.
rsrs
Eu demorei pra achar o meu shampoo, mas foi como se fosse a minha cara metade. Ñão troco mais. O que não dá e vc sair por aí experimentando tudo que ver pela frente.
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