David Lynch se rende a uma bolsa Dior. Sofia Coppola é fiel a um perfume da mesma marca. Joe Wright, de Orgulho e Preconceito, e Jean-Pierre Jeunet, de O fabuloso destino de Amelie Polain, gostam de fragrâncias Chanel. Calma! Este não é um post sobre os itens de consumo favoritos de diretores renomados. O tema dessa semana é a parceria entre cinema e moda na publicidade.
Grifes de luxo recorrem constantemente a cineastas para comandar os sets de seus comerciais. Essa iniciativa não é recente. Em 1988, por exemplo, David Lynch já havia feito um anúncio para o perfume Obsession CK, que contou com Benicio Del Toro e Heather Graham no elenco. Martin Scorsese, Wong Kar Wai, Ridley Scott, Guy Richie são outros nomes que já fizeram esse tipo de trabalho.
Só para a campanha da bolsa Lady Dior, estrelada por Marion Cottilard, foram produzidos quatro curtas de diretores diferentes. Cada filme faz referência a uma metrópole. Paris é o cenário de estreia com The Lady Noir Affair, dirigido por Olivier Dahan, de Piaf. Em seguida, o destino foi Nova York. Em Lady Rouge, a atriz francesa canta a música Eyes of Mars da banda Franz Ferdinand. Tudo isso diante das lentes do sueco Jonas Åkerlund, que já fez clipes para Lady Gaga e Madonna.
Lady Blue Shangai, o terceiro episódio, talvez seja o mais inventivo. Afinal, trata-se de uma obra de David Lynch. Na trama, a protagonista entra em alucinação com uma vida passada que teria acontecido em Xangai. Além do tom de delírio, a história ainda tem uma atmosfera de thriller. Quanto ao aspecto publicitário, a bolsa é mostrada de maneira tão espalhafatosa que o resultado é até cômico.
Em Londres, Marion Cotillard foi dirigida por John Cameron Mitchel, de Shortbus. Em Lady Grey, ela contracena com Sir Ian McKellen. Depois, a atriz apenas posou para fotos no lançamento da bolsa Lady Moscow. Não se sabe se a Dior vai continuar com esses curtas, pois a estrela da série está grávida. O rumo do projeto também é incerto porque seu idealizador era John Galliano, que foi demitido depois de ser acusado por racismo e antissemitismo ao insultar clientes em um restaurante parisiense em fevereiro desse ano.
Mesmo sem Cotillard ou Galliano, a Dior divulgou em vídeo a belíssima performance da artista visual ucraniana Kseniya Simonova na abertura da exposição ‘Inspiration Dior’, no Pushkin Museum of Fine Arts, na capital russa. Para não perder o foco no cinema, o trabalho de Simonova foi baseado em uma ideia original de John Cameron Mitchel.
Não é apenas a Dior que convida cineastas para promover seus produtos. A Chanel também faz isso. A aposta é em parcerias que já deram certo nas grandes telas. Em 2004, logo depois de ter dirigido Nicole Kidman em Moulin Rouge, Baz Luhrman trabalhou com a atriz novamente em um comercial do Chanel N°5. Em 2010, foi a vez de Audrey Tautou reencontrar Jean-Pierre Jeunet para anunciar também o mesmo perfume . Já Keira Knightley, que havia atuado para Joe Wright em Orgulho e Preconceito e Desejo e Reparação, se juntou ao diretor mais uma vez em um filme da fragrância Mademoiselle Chanel.
Sofia Coppola tem seu nome frequentemente associado ao mundo fashion. Filmes como Virgens Suicidas e Maria Antonieta são referências para quem é da moda por causa do capricho em figurinos, fotografia, direção de arte… Sofia ainda é amiga de alguns estilistas. Entre eles, Marc Jacobs que a considera como uma de suas musas para a Louis Vuitton. Ela até já colocou a mão na massa desenvolvendo uma linha de bolsas para a LV. Sofia Coppola também dirigiu dois curtas para o perfume Miss Dior Chérie, sendo o úl-timo estrelado por Natalie Portman.
Não sei bem se o casamento entre cineastas e moda se reverte em boas vendas. Marketing não é bem a minha especialidade, mas vejo aspectos positivos nessa iniciativa. Os diretores são bem remunerados pelo que fazem, as marcas de luxo ganham uma imagem simpática na mídia e o público ainda pode ver comerciais interessantes esteticamente. Porém, acho que seria bem melhor ver esse dinheiro investido em produções para as salas de cinema.
Até semana que vem!