Os passos ainda cambaleantes de um gênio

Antes de se tornar o mestre do mistério, Alfred Hitchcock chegou a rumar por  um caminho bem diferente. Em 1928, ainda no tempo do cinema mudo, o diretor se aventurou na comédia. Pelo menos, a proposta de Champagne era dar um tratamento cômico a uma intriga romântica.

O longa mostra uma jovem mimada que desafia o pai milionário ao namorar um rapaz mais pobre. Como é típico dos filmes da época, os personagens não têm nome. O principal conflito é mostrado logo na primeira cena quando o patriarca lê no jornal que sua filha pegou um avião para se encontrar com o amado em um cruzeiro no oceano Atlântico. Além do embate familiar, o casal também enfrenta as diferenças de personalidade entre os dois. Ele é um homem de gostos simples. Já ela adora o luxo.

Por mais que esse tipo de enredo já tenha rendido boas tramas não só na sétima arte, as situações mostradas não provocam tantas risadas. O casamento entre as cenas e os diálogos inseridos nas cartelas não é explorado de forma tão espirituosa. É como se o espectador apenas reconhecesse que na história poderia haver alguns aspectos engraçados.

Até confesso que tenho uma certa resistência com os gestos exagerados típicos das interpretações em comédias mudas. Porém, um dos méritos do filme é a atuação de Betty Balfour como a protagonista. Sua afetação combina com a atitude de uma patricinha dos anos 20. O jeito festeiro dessa personagem justifica ainda o título do filme. Em várias de suas sequências, ela celebra seu estilo de vida com muitos drinks.

Champagne pode não empolgar como as obras posteriores de Hitchcock, mas o longa apresenta certas escolhas estéticas bem interessantes. Em duas cenas, por exemplo, vemos através do vidro de uma taça como ilustra a foto ao lado. Outro destaque é para as passagens que simulam o movimento do mar no cruzeiro. Isso também evidencia a embriaguez e o enjoo dos personagens.

Muitos cineastas não tiveram um bom começo de carreira. A iniciação profissional é até motivo de vergonha para alguns. Champagne não chega a ser um vexame na filmografia de Hitchcock. A comédia é apenas média, digna de uma nota 6. Mesmo assim,  ela pode ser uma dica para quem deseja conhecer os primeiros passos de um diretor que veio a se tornar um grande gênio.

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