Ao longo dos anos, o cinema já mostrou vários filmes que exploram a amizade entre crianças e seres que normalmente despertariam medo. Ao explorar esses relacionamentos inusitados, as histórias costumam trazer algum tipo de aprendizado. É o caso de Onde vivem os monstros, dirigido por Spike Jonze.
O filme é uma adaptação muito interessante do romance homônimo. O livro, escrito e ilustrado por Maurice Sendak, se destaca pelas figuras. Mesmo com pouco texto, esse clássico da literatura infantil norte-americana tem uma atmosfera bem construída. Tal universo foi apreendido com perfeição pelos roteiristas Jonze e Dave Eggers. O resultado é a criação de um enredo que se adapta com eficácia ao formato de longa-metragem.
Em Onde vivem os monstros, a solidão do pequeno Max (Max Records) serve como ponto de partida para a história. Claire (Pepita Emmerichs), sua irmã adolescente, não lhe dá a menor atenção. Na escola, ele também não parece ter muitos colegas. E a mãe, Connie (Catherine Keener), mesmo que tente se aproximar do filho, vive atarefada.
Em suas brincadeiras, o menino tenta compensar a falta de companhia com muita imaginação. Essa capacidade de fantasiar lhe serve até como refúgio. Em uma briga com a mãe, ele é posto de castigo e foge. A partir daí, ele encontra uma floresta habitada por enormes monstros peludos.
As criaturas não são ameaçadoras como se poderia supor. Na verdade, elas têm sentimentos bem humanos: amor, raiva, tristeza, ciúme, alegria etc. E adivinha: elas são tão carentes quanto Max. O grandão Carol (interpretado por Vincent Crowley e dublado originalmente por James Gandolfini) é quem mais se aproxima do garoto.
Com esperteza, Max se torna um rei para os monstros. Por exercer esse poder, ele ganha a liberdade de se divertir do seu jeito. Porém, seu reinado é arruinado ao magoar seus novos amigos. Isso faz com que ele perceba seus próprios erros. Assim, Max e seus colegas sofrem uma transformação. Eles passam a dar mais valor aquilo que têm.
Esse tipo de narrativa que trata sobre a metamorfose ds personagens é bem tradicional. Spike Jonze equilibra isso com sua inventividade visual já mostrada em Quero ser John Malkovich, Adaptação e em clipes para artistas como a islandesa Björk. Jonze é um diretor com a criatividade adequada para trabalhar com a riqueza do mundo infantil. O cineasta também não subestima a inteligência da criança e até os ganham com isso.
Para quem ainda não viu Onde vivem os monstros, me despeço com o trailer do filme. Até a semana que vem!