Meio Ambiente: Aquele meu pé de quê?

por Jéssica Lauritzen

No quintal onde cresci havia muitas árvores… mas a mangueira era a que me apetecia mais. Ela fazia a sombra durante a tarde, depois do almoço. E segurava a rede em que eu e meus primos adorávamos nos balançar. Suas folhas tinham um aroma especial e anunciavam o sabor da manga, que eu aguardava cair do pé; de madura. Essa árvore era especial. E, às vezes, a gente a abraçava, como se uma amiga fosse.

Porque um tema que envolve a infância desperta essas coisas na gente. E, pensando bem, o contato com o meio ambiente começa mesmo nessa fase. Você, hoje, pode ser alguém “super antenado” com as questões ambientais; um pouco interessado; ou, talvez, não conheça muito bem os caminhos da ecologia. Estou certa, porém, de que você próprio – ou, pelo menos, alguém que você conheça –, teve o primeiro contato prático com um organismo verde a partir de um elo comum.
Afinal, quem não compartilha com amigos de infância a célebre experiência de plantar o grãozinho de feijão no algodão? Esse processo nos leva ao conhecimento de como ocorre o processo de fotossíntese na sua germinação. Para nós, quando pequenos, tudo é curiosidade, entre plantas, bichinhos e a natureza desconhecida até então. E quando crescemos, o que se perde no meio do caminho? Seja lá o que for, podemos resgatar.

Como sugestão, deixo aqui um trecho da crônica Meu velho cajueiro, de Humberto de Campos:

“Todo mundo, de repente, tem uma árvore que lhe diz alguma coisa ou lhe traz saudades…
Fulano, uma mangueira; sicrano, uma amendoeira; beltrano, um florido flamboayant. E por aí vai.
Carrego comigo a lembrança de um frondoso e elegante cajueiro. Foi meu inseparável amigo nos tempos de minha alegre e feliz infância, já tão distantes.
Confesso, que sempre tive vontade de dedicar-lhe uma ou duas linhas. Volvidos tantos anos, faço-o, agora.

 ***


Crescemos juntos. À sua sombra ouvi e criei milhares de passarins sertanejos.
No mês de outubro, ele cobria-se de flores. Aí, sabiás, graúnas, periquitos e jandaias pousavam nos seus fornidos galhos. E, em prolongados gorjeios, anunciavam a chegada dos cajus.
Minha mãe colhia-os delicadamente, e fazia o melhor doce de caju do mundo.
Meu pai cuidava do suco. Argumentando que o caju era uma fruta rica em cálcio, ferro, fósforo, zinco, magnésio, proteínas, lipídios e carboidratos, o velho me aconselhava a bebê-lo, provando-o antes.

***

Pois é. Passados mais de 60 anos, aqui estou eu a dizer-lhe: Alô, velho cajueiro! Soube que você foi derrubado. E que no seu lugar, construíram uma mansão. Mas que pena!
(…)
Se hoje nos encontrássemos, você me teria com o rosto marcado pelos anos; grisalhos os cabelos; e a minha barba, também. Mas me lembrando de você…”

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