Dividir o microfone é algo de muito pessoal, coisa de amigos. Nas bandas, podemos medir a proximidade (e sobriedade, claro) dos integrantes pela distância que eles cantam. Carl Barât e Pete Doherty catavam juntos, bem juntos.
Os moços que eu citei acima, caso você não saiba, formavam a banda The Libertines. Nem toda amizade de infância começa quando você é criança. Foi o caso deles, que se conheceram na faculdade. Barât estudava Arte e Doherty, Literatura. Logo perceberam a afinidade para compor. Leitores ávidos, encheram as músicas de referências literárias. O nome da banda, por exemplo, é inspirado no romance do Marquês de Sade, Os 120 Dias de Sodoma.
Os amigos não demoraram a cair nas graças da imprensa e do público. A NME não poupou elogios ao segundo CD, The Libertines.
“O que você tem aqui é a experiência mais angustiantemente voyeurística do rock da história. É também o rock’n’roll mais emocionante e brilhante dos últimos 20 anos …” (NME, 2003)
O sucesso, no entanto, era entremeado por problemas. O vício de Pete Doherty em cocaína e heroína fez com que os Libertines estampassem os jornais por outros motivos que não a música. A relação de Doherty com a banda logo começou a se deteriorar. O resultado foi esse álbum elogiado pela revista NME, repleto de músicas de DR (porque não são só namorados que discutem a relação). Doherty e Barât colocaram em rimas o relacionamento conturbado de dois amigos do rock.
Desde a primeira música, Can’t Stand me Now, vemos letras como:
Have we got enough to keep it together?/ Or do we just keep on pretending (and hope our luck is never ending)
Ou em The Man Who Would be King:
I watched friendship slip away/ But it wasn’t s’posed to be that way
Music When the Lights Come out, já dá o tom da despedida:
And all the highs and the lows/ And the to’s and the fro’s/ They left me dizzy/ Oh won’t you please forgive me/ But I no longer hear the music
The Saga tenta explicar a causa do problema, ou pelo menos reconhecê-lo:
A problem, becomes a problem/ When you lie to your friends/ And you lie to your people/ And you lie to yourself/ And the truth’s too hard to comprehend/ You just pretend the isn’t a problem
Para terminar, uma música que parece uma carta entre amigos que tinham tudo para ser bem sucedidos, mas o futuro não saiu exatamente como planejado, What Became of the Likely Lads:
Please don’t get me wrong/ See I forgive you in a song/ We’ll call the Likely Lads/ Bu if it’s left to you/ I know exactly what you’d do/ With all the dreams we had […]/ If it’s important to you/ It’s important to me/ I try to make you see/ But you don’t want to know
Numa entrevista em 2010, cinco anos depois de anunciado o fim da banda, Carl Barât disse o que sentia falta na amizade com Pete Doherty.
“Para ser honesto, sinto falta de um melhor amigo que, apesar de todas as loucuras, me entendia…”
Nesse mesmo ano eles tocaram juntos nos festivais de Reading e Leeds. Enfim, os fãs puderam vê-los dividirem o microfone de novo.