Sempre tive apreço pelos loucos. Sei que a frase parece caricata, além de soar como uma espécie de devaneio de alguém que amargou uma tremenda ressaca na segunda-feira. Mas posso garantir que o comentário fora feito com muita sobriedade, mesmo porque não costumo ingerir bebidas alcoólicas.
É que dos loucos, porque estão nessa situação, já sabemos de antemão que devemos esperar qualquer coisa. Patologicamente falando, um louco é alguém que não tem condições psíquicas de responder pelos seus atos. E para eles, a sociedade reserva um tratamento bem típico: camisa de força, todos em direção ao hospício.
Agora, o que dizer daquelas pessoas ditas normais que de uma hora para outra resolvem surtar e destruir a vida alheia? Essas, sem dúvida, são as que mais me apavoram. E vendo o noticiário da semana passada, fiquei pensando em como, a cada dia, elas se multiplicam impunemente por aí.
Imagine você que na manhã de sábado (27/08) foi registrada a morte do pedreiro Ermínio Gomes Pereira, 59 anos, atropelado na quinta-feira (25/07) à noite pelo subsecretário de Estado de governo da Região Metropolitana, Alexandre Felipe Vieira Mendes. Ex-integrante da Operação Lei Seca, Alexandre é suspeito de dirigir alcoolizado e atingir mais cinco pessoas, inclusive uma mãe com dois filhos. Em nenhum dos casos, o motorista parou para socorrer as vítimas.
Dias antes, os jornais deram destaque a um levantamento feito pelo Tribunal de Justiça do Rio com o nome de 91 policiais militares suspeitos de envolvimento no assassinato da juíza Patrícia Acioli, morta com 21 tiros na porta de casa. Segundo análise preliminar do TJ, todos os policiais respondem por homicídios e, alguns, por formação de quadrilha e grupos de extermínio.
Loucura? Maluquice? Esquizofrenia? Piração total? Não, normalidade. A explicação vem do sociólogo Émile Durkheim. Segundo Durkheim, ‘os fatos sociais devem ser encarados como coisas’. As ‘coisas’, por sua vez, tendem à normalidade. Assim, um crime é considerado normal, pois emana da sociedade, onde sua função é manter a coesão social. Um criminoso, por exemplo, só é considerado um criminoso porque sua atitude atinge a consciência coletiva.
Bom, e se tudo é normal, esboçar qualquer reação contrária seria fazer o papel de maluco, louco, ensandecido. É por isso que poucos se incomodam que a polícia, cuja função é combater o crime, viole um direito fundamental a todo ser humano, que é o direito à vida. Ou que o Estado, que tem por obrigação zelar pela segurança dos cidadãos, se torne um de seus principais algozes.
Sinto falta de pessoas menos normais. Por isso, desejo uma semana enlouquecedora pra você!