O papel do negro em Hollywood

Ao ver Will Smith e Denzel Washington como protagonistas de grandes produções, podemos até pensar que a indústria cinematográfica há muito tempo superou o racismo. Segundo o Guinness deste ano, o ator mais rentável não é nenhum loirinho de olhos azuis, mas sim Samuel L. Jackson. Mesmo como coadjuvante na maioria das vezes, seus filmes já renderam US$ 7,4 bilhões.

Porém, uma análise mais cuidadosa mostra que algum preconceito ainda persiste. Em artigo publicado na Revista Piauí de fevereiro de 2009, o cineasta e jornalista João Moreira Salles descreve como Hollywood costuma retratar certas minorias. Mesmo que muitos artistas negros tenham se tornado os principais astros de certos blockbusters, a forma como eles frequentemente aparecem nos enredos revela certo tipo de discriminação racial. João observa que o relacionamento inter-raciais entre um negro e uma mulher branca é uma das barreiras intransponíveis do “cinemão” americano.

Esse obstáculo existe em O Dossiê Pelicano, thriller de 1993, estrelado por Denzel Washington e Julia Roberts. A namoradinha da América faz Darby Shaw, uma típica mocinha indefesa que só conta com a ajuda de Gray Grantham, vivido por Denzel Washington. Era de se esperar que Darby caísse nos braços de Gray. No entanto, não há qualquer romance entre os dois. “Se o papel fosse de Richard Gere, por exemplo, seria inconcebível supor que os dois não terminassem por se apaixonar”, aponta o jornalista da Piauí. 

João Moreira Salles nota que atores negros fazem par com atrizes também negras na esmagadora maioria das vezes. Eu incluiria que eles também contracenam com latinas – outro grupo minoritário. É o que vemos com Will Smith e Eva Mendes na comédia Hitch. O caso da produção Hancock em que o protagonista de Smith tem uma relação com Mary, na pele da loira Charlize Theron, é uma exceção.

Segundo João, é bem mais fácil ver uma atriz negra em papel romântico junto de uma ator branco. É o que vemos tanto na melosa história de amor interpretada por Whitney Houston e Kevin Costner em O Guarda-Costas quanto no conturbado affair entre os personagens de Halle Berry e Billy Bob Thornton.

 Joe Queenan, jornalista do The Guardian, também apresenta outro dado interessante sobre a questão racial em Hollywood. Em artigo publicado em janeiro deste ano, Queenan escreve sobre o lançamento de O vencedor. Para ele, a trama sobre o pugilista Micky Ward, encenado por Mark Wahlberg, era mais um exemplo de como o cinema americano conseguia fazer bons filmes tratando de boxe. O que causa surpresa ao jornalista é que a maior parte tem protagonistas brancos. Já na realidade dos ringues, os negros são dominantes.

Longas como Ali e Hurricane são raros e eles ainda tiveram lançamentos discretos e recepção mais morna. Em Ali, Will Smith vive o Muhammad Ali. E em Hurricane, Denzel Washington é o lutador Rubin Hurricane Carter. Pelo que podemos ver, a luta contra o racismo ainda tem alguns rounds pela frente. Mas a gente torce para que o preconceito seja derrotado.

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