Devo confessar que o tema da semana – casamento – me deixou empolgada. Não que eu faça o tipo ‘casamenteira’, esteja prestes a subir ao altar ou qualquer coisa parecida. Pelo contrário, estou mais para solteira incorrigível do que romântica açucarada, para histeria da minha avó. Mas é que, particularmente este ano, acho que o assunto deu o que falar.
Para começar, vale destacar os recentes dados divulgados pelo IBGE sobre casamento. No Brasil, o número de matrimônios, em 2010, aumentou 4,5% em relação a 2009. Homens e mulheres também estão oficializando a união mais tarde. Se em 2005, elas se casavam, em média, aos 24 anos e eles aos 27, atualmente, o enlace ocorre dois anos depois, para ambos os sexos.
Nota-se, portanto, uma mudança no perfil das famílias brasileiras: há mais casamentos, porém com idade mais avançada. Até aí, nenhuma grande surpresa. É basicamente o que gente tem observado na sociedade. Entretanto, deve-se ressaltar também que o número de divórcios cresceu. Só na cidade de São Paulo, no ano passado, o número de casais que puseram fim ao casamento, legalmente, subiu 28%.
E aí fica a pergunta: o número de divórcios aumentou porque há mais casamentos ou há mais casamentos porque o número de divórcios aumentou? (Lembra do biscoito Tostines: vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?) Sinceramente, eu não tenho uma resposta pronta, mas a gente pode especular.
De fato, muita gente pensa em se casar porque hoje está igualmente fácil se divorciar. A Emenda Constitucional 66, em vigor desde 2010, eliminou os antigos prazos para dar entrada no pedido de divórcio, além da necessidade de separação prévia. Ademais, tudo pode ser resolvido em cartório, sem a necessidade de passar por burocracias judiciais. Claro, isso só vale para casais em que há consenso e não têm filhos menores.
Entretanto, seria um erro dar cabo de tudo por conta da legislação. Basta tomar como exemplo alguns artigos publicados pelo Bernardo Jablonski, famoso no meio humorístico, falecido no último 28 de outubro, e que desde 1988 vinha realizando pesquisas sobre matrimônios. Segundo Jablonski, a ‘crise do casamento contemporâneo’ seria motivada pela modernização e urbanização da sociedade, o crescimento do individualismo, o encurtamento das famílias, o aumento da longevidade e o modo como a cultura valoriza o amor e a sexualidade nos dias atuais.
Um dado curioso, levantado por Jablonski, é que uma vez separados, é mais fácil para os homens voltarem a se casar. Aqui, se inicia os rearranjos familiares. Quem não tem algum conhecido que, após se divorciar, voltou a casar e constituir nova família, com mulher e filhos?
Bom, falta ainda desvendar o que estaria motivando mais casais a oficializarem a união. O próprio Jablonski alertava que “faz parte do pacote cultural” a ideia de que um dia todos vão encontrar um príncipe encantado (ou uma princesa encantadora), com todas as qualidades possíveis. Discurso que seria maciçamente doutrinado via cinema, TV, literatura, letras de música, teatro, jornais e até mesmo anúncios publicitários.
Já a Revista VEJA, em reportagem publicada em agosto de 2010, trouxe outras explicações: ninguém mais é obrigado a viver num relacionamento infeliz, foi-se o tempo em que se casava por imposição da família (Fala isso pra minha avó!); além disso, homens e mulheres compartilham mais as tarefas domésticas, despesas do lar e educação dos filhos.
Enfim, deixo abaixo os links dos textos citados no post e fica aguardando seu comentário: vale a pena casar?
http://www.bernardojablonski.com/pdfs/producao/atitudes_frente.pdf
http://www.bernardojablonski.com/pdfs/producao/o_cotidiano.pdf
http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx