Por Luiza de Andrade Fabiola Paschoal
Confesso que me deu um certo branco na hora de escrever esta coluna. Não é que eu não tenha interesse por cinema. Ao contrário, gosto muito. Porém, não me sinto tão confortável para falar sobre filmes quanto para falar de livros. Por isso, ao invés de simplesmente escolher um filme e resenhá-lo aqui, decidi escrever sobre um assunto que me interessa bastante: adaptações!
Hoje, é cada vez mais raro ver um roteiro original nos cinemas. Vários sucessos de bilheteria são adaptados de livros, histórias em quadrinhos, peças de teatro e por aí vai. Ao contrário de muitas pessoas, eu não acredito na máxima de que “o livro é sempre melhor do que o filme”. Penso que filmes são mídias bem diferentes de livros. Para a história ser bem contada é preciso que ela seja adaptada às características de cada meio. O livro sempre vai contar com uma riqueza maior de detalhes, com descrições que muitas vezes se perdem na telona. Porém, não creio que o filme deva ser absolutamente fiel ao livro que lhe deu origem. Em certos casos, um pouco de licença poética cai muito bem.
Já vi muitas adaptações que estragaram completamente o enredo, de tão nonsense que ficaram. Outras, contudo, foram felizes surpresas porque, pasme, conseguiram ser melhores do que o livro. Algumas histórias simplesmente funcionam melhor nas telas do que nas páginas. Quer um exemplo? O Caçador de Pipas! Detestei o livro com todas as minhas forças, não tive a menor paciência para aquele dramalhão todo e não derramei nenhuma lágrima durante a leitura. O filme, porém, conseguiu me tocar e eu saí do cinema, no mínimo, surpresa. Quer um exemplo mais comercial? Amanhecer (parte 1) da saga Crepúsculo! O último livro da série, na minha opinião, é um porre. O livro é um festival de #mimimi e bizarrices que fica difícil até para os maiores amantes de fantasia engolirem. O filme, entretanto, conseguiu amenizar a chatice da história, dando dinamismo a cenas originalmente insossas.
Reza a lenda que o mesmo acontece com O Diário de uma Paixão, de Nicholas Sparks. Já li inúmeras resenhas falando que o filme é maravilhoso e que o livro é péssimo, melodramático e raso. Eu ainda não li o livro, apesar dele morar na minha estante há mais de um ano, então não posso opinar ainda. Só sei que fiquei meio desapontada ao ler tantas críticas, porque eu sou apaixonada pelo filme, desidratei de tanto chorar quando assisti, e realmente esperava que o livro fosse tão bom quanto. Enfim, quando eu tomar coragem de ler, descobrirei.
Em outras situações, o filme não chega a transcender o livro, mas se equipara a ele em qualidade. É o caso de Ensaio para Cegueira, de José Saramago. O livro é maravilhoso, intenso e me fez refletir horrores. E o filme homônimo dirigido por Fernando Meirelles conseguiu reproduzir a atmosfera da história de forma impecável, fazendo o espectador sentir ojeriza, raiva e repulsa por conta das atrocidades mostradas na trama de Saramago. Um outro exemplo é o de um filme pouco conhecido, chamado Pecados Íntimos. Este longa foi adaptado de um livro chamado Criancinhas, do autor Tom Perrota e, afora o título mal traduzido, é bastante fiel. As atuações são impecáveis: os atores realmente conseguem passar os anseios e angústias das personagens do livro. É uma pena que não tenha feito muito sucesso aqui no Brasil, pois é um filme muito bonito e profundo.
É lógico que isso não é uma regra. Algumas adaptações são dignas de matar um escritor de vergonha, mesmo que ele já esteja morto. Isso acontece com o filme que me inspirou a escrever este post: Sherlock Holmes – O Jogo das Sombras. Fui assisti-lo no último final de semana e decepção é pouco para descrever o que eu senti. É incrível como conseguiram pegar uma história muito boa e transformar em um filme ruim. Eu não sei você, mas eu não tenho a menor paciência para mil tomadas de lutinha, explosões e outros hollywoodismos e metade do filme é composto de cenas do tipo. Como se já não fosse chato o suficiente, abusaram das tomadas em câmera-lenta. A impressão que eu tive foi de que o diretor tinha acabado de descobrir este recurso e precisava usá-lo toda hora. Tenho certeza de que o filme poderia ter, no mínimo, meia hora a menos caso não houvesse 200 cenas em câmera-lenta. Pode ser que a intenção tenha sido a de criar uma atmosfera de mistério, no entanto, tudo o que conseguiu foi me dar sono, muito sono!
Enfim, fato é que existem adaptações boas e más. Como eu disse, algumas histórias funcionam muito bem nas páginas porém, perdem o sentido quando transportadas para as telas, e vice-versa. Eu, particularmente, gosto de roteiros adaptados e sempre fico ansiosa para assistir a um filme baseado em alguma história que eu goste muito. É claro que, às vezes, rola um desapontamento, mas, na maioria dos casos, a experiência é válida.
E você, gosta de filmes adaptados de livros ou é do time que acha uma heresia modificar histórias alheias? Conta para mim nos comentários! =)
Oi, Fabiola. Adaptação é um tema ótimo. Algumas são horríveis, mas muita coisa se salva. Achei legal vc ter mencionado “Ensaio sobre a cegueira”. Não é um dos livros mais fáceis para transpor pro cinema, mas eu gostei bastante do resultado. Não sei se vc sabe, mas o o filme agradou até o Saramago. Ele ficou super contente depois de ver o filme. Olha a reação aqui no link: http://www.youtube.com/watch?v=Y1hzDzAvJOY.
Já tinha visto isso, Lu. Eu achei o filme super bem feito, comparável ao livro. E olha que considero o livro brilhante! *-*
Muito bom seu post, Fabiola! Também me sinto muito mais à vontade pra falar de livros do que de filmes, mas nessa de comparar as obras originais com as produções da telona é que eu me acho. Muito interessantes suas observações sobre Sherlock Holmes, que parece ser bem abusivo mesmo. Senti a mesma coisa vendo Os Três Mosqueteiros, hollywoodiano demais pro meu gosto (mesmo não tendo lido Dumas ainda). ;]
Obrigada, Jéssica!
De fato, Sherlock é decepção total. Juro que fiquei com vontade de ir embora, principalmente nas cenas em câmera lentazzzzzz.
Os 3 Mosqueteiros eu nem me dignei a ver o filme haha mas também não li o livro ainda, shame on me!