Literatura: Pão e Circo

por Fabiola Paschoal Amanda Borges

Os antigos romanos promoviam espetáculos sangrentos, onde homens e feras se digladiavam enquanto a platéia recebia pão para assisti-los. Esses combates serviam para divertir a população, que entretida e alimentada, não se revoltava contra seus governantes. Tudo isso pode parecer uma realidade distante, restrita às aulas de história, mas não deixa de ser o que assistimos todos os dias na televisão. Atire uma pedra quem nunca assistiu Big Brother, American Idol ou No Limite, entre tantos outros programas do tipo. Os reality shows dominam a programação das TVs e ocupam grande parte das discussões do dia-a-dia. Alternados aos realities, cenas de guerras reais e desastres naturais são exibidas como se fossem filmes, e tudo o que fazemos é assistir – apáticos – o que passa na televisão.

Foi ao assistir a violência dos programas de TV, que Suzanne Collins, ela própria uma roteirista de televisão, decidiu escrever Jogos Vorazes (Editora Rocco, 400 páginas, R$39,50), primeiro volume que dá nome à série. E é por causa dessa análise da sociedade que a autora faz, que eu acho a série sensacional. Além, é claro, das referências óbvias a 1984, de George Orwell, e ao mito de Teseu e o Minotauro que, segundo a própria autora, serviu de inspiração para o livro.

A história se passa em Panem, onde, antes de uma série de guerras e desastres naturais, era a América no Norte. Depois que os 13 distritos que compunham o Panem entraram em rebelião contra a Capital, o 13º distrito foi apagado do mapa. Desde então, como forma de controle sobre os distritos restantes, a Capital promove os Jogos Vorazes, edição anual de um jogo em que dois tributos (jovens de 12 a 18 anos) de cada distrito são sorteados e obrigados a participar de um jogo em que só um irá sobreviver. Jogados numa arena onde tudo é televisionado, os 24 tributos são obrigados a lutar até a morte, até que só reste um campeão.

Na 74ª edição, a representante feminina sorteada é Primrose Everdeen, irmã de apenas 12 anos da protagonista da história. Katniss Everdeen se voluntaria para ir para os Jogos no lugar da irmã. Seu primeiro adversário é Peeta Mellark, o tributo masculino do distrito 12. É então que a história começa.

A premissa do livro parecia no mínimo estranha para mim, e eu resisti bastante antes de ler. Depois das primeiras páginas, no entanto, me envolvi completamente na vida de Katniss, que narra todo o livro em primeira pessoa. Katniss é uma personagem forte e cheia de personalidade. Órfã de pai, que morreu soterrado numa mina (única fonte de trabalho do distrito 12) e com uma mãe ausente, ela é responsável por alimentar a família. Para isso, burla as rígidas regras da Capital e caça com arco e flecha na floresta perto da casa dela. Nessas caçadas, ela está sempre acompanhada de Gale, outro habitante da Costura (área pobre do distrito 12), que também tem que alimentar as muitas bocas da família.

Não dá para contar muito da história sem falar demais, então acho melhor parar por aqui. O primeiro livro tem uma leitura muito rápida. Em algumas partes você literalmente perde o fôlego. Tenho que reconhecer que, apesar de adorar a Katniss, li os três livros num frenesi só para saber se o Peeta ia sobreviver.  Ainda assim, tive dúvidas de seu caráter durante o primeiro livro inteiro. Como a história é narrada em primeira pessoa, todas as dúvidas da desconfiada Katniss são projetadas no leitor. Suzanne Collins tem total controle sobre a história e, apesar de sutil, é possível perceber como ela manipula o leitor para odiar/gostar/duvidar de um personagem.

No segundo livro, Em Chamas (Editora Rocco,416 páginas, R$39,50), tive medo de a narrativa descambar para um foco muito forte no triângulo amoroso, mas Collins se mostrou tão cruel quanto no primeiro livro. Aliás, esse é outro motivo para eu gostar do livro. Apesar de usar da estrutura típica de triângulo amoroso da literatura jovem adulto (é incrível como nesses livros a protagonista sempre está dividida entre dois caras perfeitos. Não acontece comigo! rsrs), ela a contrapõe com uma narrativa rápida (típica da TV) e brutal.

O terceiro livro, A Esperança (Editora Rocco, 424 páginas, R$39,50), é angustiante e frustrante ao mesmo tempo. Achei o final um pouco corrido, como se a autora não tivesse tido tempo – ou paciência – para desenvolver a história. Ainda assim, quem leu o primeiro e o segundo não pode deixar de ler o terceiro.

A trilogia já está sendo adaptada para o cinema (pasmem!) e o primeiro filme estréia no dia 23 de março. Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson e Liam Hemsworth irão interpretar o trio principal. Eles são Katniss, Peeta e Gale, respectivamente. A adaptação conta ainda com Woody Harrelson como Haymitch Abernathy, mentor dos tributos do distrito 12 e perfeito para o papel.

E vocês, já leram? O que acharam?

Se não, que a sorte esteja com vocês!

7 thoughts on “Literatura: Pão e Circo

  1. Eu também tive essa estranheza logo de cara e confesso que resisti, pelo fato da narrativa ser em primeira pessoa no presente, não é meu estilo favoito, acho desigual e desleal ficar sabendo o que se passa com apenas um personagem. Mas, Collins fez bem o seu trabalho, muito bem por sinal.

    Ótima resenha!

    Ana Caroline
    http://nossocdl.blogspot.com/

    • Às vezes o livro na primeira pessoa fica cansativo, mas acho que a Suzanne Collins soube usar muito bem esse recurso para deixar o leitor na mão dela. Como eu falei no texto, duvidei do caráter do Peeta durante o primeiro livro inteiro. E essa era a intenção dela. 😉

  2. Engraçado, eu tenho preconceitozinho com essa série, e não faço ideia do motivo. Eu até queria ler para ver se mudo de ideia, mas tenho taanta coisa para ler antes que sempre acabo desanimando. Vou procurar p/ baixar, quem sabe eu me surpreendo?

    Gostei muito do tema do post, nunca tinha parado p/ pensar na história desse livro sob essa ótica do pão e circo, sempre achei que fosse apenas uma trama que bebeu da mesma água do George Orwell. Agora vc me deixou curiosa. 🙂

    • Eu também tinha preconceito. Não sou muito fã de literatura YA e achava que fosse mais um desses livros tipo Twilight. Demorei quase um ano pra tomar coragem e comprar, mas gostei tanto que li os três em uma semana. 🙂

  3. Eis aqui outra pra desconfiar de séries YA supercomentadas! xD

    Deixando de lado o preconceito, me interessei bastante por Jogos Vorazes. Não queria ir ao cinema antes de ler a trilogia. Parabéns pela ótima resenha! ;]

  4. Pingback: Retrospectiva 2012: o Cinema no ano que passou « 7 em 1

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