Se você leu o meu texto da mentira, falei por alto a questão da publicidade nos alimentos. Lembra-se do que eu escrevi sobre o rótulo das alfaces? Ou se leu o post da falsificação, expliquei o que são alimentos falsificados e adulterados e como estão cada vez mais “próximos” do verdadeiro. De fato, ambos os textos me levaram a pensar na publicidade dos alimentos.
Um caso famoso e polêmico na publicidade brasileira é a propaganda do Danoninho, da década de 1980. Os que têm mais de trinta provavelmente se lembram do slogan “Danoninho, aquele que vale por um bifinho”. E foi essa sacada publicitária que gerou a discussão.
A campanha, não me recordo a agência responsável, era inspirada no bif do piano. O bif é uma sequência de notas que todo iniciante no instrumento é obrigado a treinar para dominar o piano. Então, o que se fez foi uma corruptela da palavra e um jogo com o alimento, a carne, para criar a peça publicitária e o seu jingle. O grande questionamento foi “como os publicitários se atreveram a comparar uma ‘sobremesa’ com a carne, um alimento substancial e necessário na alimentação infantil?”.
A visão empresarial e publicitária queria transmitir que o produto é bom, saudável e que os pais não precisavam ficar receosos com o que estava comprando. Já a visão nutricional implica em afirmar que um produto, embora pareça iogurte, não pode ser comparado à carne já que não tem as mesmas propriedades nutricionais e proteicas. E o olhar social, é de perplexidade.
Mudando o foco, o queijo cremoso suíço contêm corantes, estabilizantes, aroma para durar e parecer apetitoso configurando assim como produto industrializado. E não é apenas exclusividade do Danoninho mas de todo produto industrializado. Que fique claro: não quero demonizar o produto pronto (porque em muitos casos eles são necessários e quebram o galho) mas discutir essas afirmações ditas como universais e únicas que a publicidade tenta nos empurrar, às vezes, de maneira ingrata.
Não sei como foi a atuação do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) nesse caso. Quem não conhece, a entidade é responsável por investigar e denunciar a ética ou falta de na publicidade. E tem o poder de suspender temporariamente a exibição da peça ou exigir correções na propaganda ou então advertir anunciante e agência.
Já nos anos 1990, o jingle do Danoninho viria a ser reescrito abordando a composição nutritiva do produto sem fazer menção ao “Danoninho, aquele que vale por um bifinho”. E nunca mais me esqueci da segunda versão porque eu nem era nascida quando foi lançada a primeira. Momento parênteses.
Esse foi um dos muitos casos controversos da publicidade brasileira. Se lembra de alguma polêmica envolvendo a publicidade de alimentos? Escreva aqui. Volto sábado.