Meio Ambiente: Os prazeres da carne

Comer é, sem dúvida, um dos maiores prazeres da vida. E há toda uma tradição em torno da relação com a comida em diversas culturas, basta lembrar-se dos almoços em família, especialmente aos domingos, ou o clássico churrasco com os amigos. Por esta razão, a coluna Meio Ambiente de hoje traz um assunto que envolve prazer e, ao mesmo tempo, tabu: comer animais. A inspiração veio da obra do escritor norte-americano Jonathan Safran Foer que traz este título na capa, e uma reflexão que vale destacar: “É sempre possível acordar alguém que está dormindo, mas nenhum barulho vai acordar alguém que finge estar”. E Foer vai adiante: De onde vem a carne do nosso prato? Como os animais são tratados? E quais os efeitos econômicos, sociais e ambientais que o maciço de consumo de animais provoca?

Porque “a carne é fraca”, literalmente, é preferível, menos doloroso e mais cômodo não saber, não investigar e fugir do assunto. Como “carnívoros seletivos”, seguimos minimamente uma regra implícita de não comer animais de companhia, mas devemos lembrar que o cachorro, por exemplo, não é mantido como ‘o melhor amigo do homem’ em todos os lugares do mundo. Isso explica o fato de que “os franceses, que adoram seus cachorros, às vezes comem seus cavalos. Os espanhóis, que adoram seus cavalos, às vezes comem suas vacas. E os indianos, que adoram suas vacas, às vezes comem seus cachorros”.

De qualquer modo, seja você um defensor, ativista ou simpatizante de organizações que atuam em campanhas globais contra a tortura e os maus-tratos de animais – como o PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) –, ou não, é provável que tenha se chocado diante das polêmicas aparições da artista Lady Gaga, na mídia: primeiro com um biquíni de carne na capa da revista Vogue do Japão; depois quando centralizou as atenções e surpreendeu o público ao desfilar um vestido feito de carne crua, durante o a entrega dos prêmios do “MTV Video Music Awards”, em 2010; e agora com nova versão apresentada na sua última turnê em Tóquio, Gaga usou modelo inspirado no famoso vestido de carne e se apresentou pendurada em uma fileira de falsas carcaças de animais, simulando um abatedouro (dizem que a turnê pode chegar ao Brasil em novembro).

 

Estes episódios trazem à luz o atual cenário da indústria alimentícia e do consumo de proteína animal. Enquanto o vegetariano, em geral, se restringe aos cuidados com a alimentação, o vegano traz uma filosofia de vida mais aprofundada, pois veta qualquer utilização nociva dos animais, seja nos alimentos, no vestuário, para entretenimento ou qualquer outra atividade que envolva a exploração animal.

Ainda bebendo nas fontes do livro citado temos que, em termos mundiais, cerca de 450 bilhões de animais terrestres são criados em escala industrial todos os anos, sem mencionar o número de peixes: “A criação em escala industrial é um modelo mental: reduzir os custos de produção a um mínimo absoluto e ignorar sistematicamente outros custos, como degradação ambiental, doenças humanas e sofrimento animal”. Mais do que uma defesa do vegetarianismo, a obra sugere que comer pode ser um exercício de ética, uma prática mais consciente (ainda que você opte por continuar comendo carne), principalmente quando se tem conhecimento dos dados que apresento a seguir:

– A indústria de carne ocupa cerca de 1/3 das terras do planeta;

– O setor pecuarista é responsável, globalmente, por 18% das emissões de gás estufa;

– Um só método de pesca, o feito com espinhéis, mata 4,5 milhões de animais anualmente;

– A criação animal usa, a cada ano, 756 milhões de toneladas de grãos e cereais para alimentar aves, porcos e gado bovino, bem mais do que o necessário para alimentar o 1,4 bilhão de seres humanos que vivem em extrema pobreza (cenário que tende a se agravar com o avanço do consumo dos variados tipos de carne em países emergentes como a China e a Índia).

E você, já pensou no cardápio da semana? Que tipo de relação você tem com a comida?

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