Um filme envelhece e a percepção do público sobre ele pode se modificar com o tempo. Alguns envelhecem bem, outros mal, e você às vezes se pergunta “como cheguei a gostar disso?” quando revê algum filme querido da sua infância.
Com Blade Runner: O Caçador de Androides (Blade Runner, 1982), aconteceu essa mudança de percepção ao longo das décadas. Dirigido por Ridley Scott e baseado num conto do escritor de ficção-científica Phillip K. Dick, o filme situa-se no distante (para a época) ano de 2019, numa Los Angeles assustadoramente mecanizada e sombria, dominada pela chuva incessante.
Na trama, os cientistas da Tyrell Corporation criaram os replicantes, androides virtualmente idênticos aos humanos, para realizar trabalhos perigosos. Alguns replicantes fugiram para a Terra e estão na cidade (o que é ilegal), passando então a serem caçados pelo policial Deckard, interpretado pelo ator Harrison Ford, na ocasião, o maior astro de cinema do mundo graças aos sucessos de Star Wars e Indiana Jones.
Mas nessa história enganadoramente simples, Scott subverte as expectativas. Os replicantes estão em busca de seu criador e de mais tempo de vida – eles são feitos para durar apenas quatro anos. E quando o protagonista apaixona-se por uma replicante avançada, Rachael (Sean Young), nós, o público, passamos a nos questionar: “Afinal, qual é a diferença entre humanos e replicantes?”, “Deckard seria um replicante, já que ele tem características semelhantes aos seres que persegue?”.
Harrison Ford em cena com Sean Young
Essa última pergunta, até hoje não satisfatoriamente respondida pelo filme, ajudou a criar a mística em torno de Blade Runner. Scott, então no seu terceiro longa-metragem, criou um dos filmes mais visualmente impressionantes da história do cinema – a direção de arte e os efeitos visuais (indicados ao Oscar) são espetaculares até hoje, e a cidade onde se passa a história é uma das criações mais incríveis já exibidas numa tela.
Na época de seu lançamento, Blade Runner foi considerado um fracasso de bilheteria. Porém, com o tempo (e o vídeo e as reprises), foi sendo reapreciado, a ponto de Ridley Scott relançá-lo no começo dos anos 90, com a sua “versão do diretor” (ainda inacabada, como ele viria afirmar mais tarde). A influência visual e temática do filme se faz sentir em vários outros grandes sucessos posteriores da ficção-científica, e a mistura de gêneros (policial, noir, fantasia) foi de certa forma pioneira.
Em 2007, o diretor lançou em DVD e Blu-ray o seu Final Cut, a versão definitiva do filme que pôs mais lenha na fogueira cinéfila da eterna discussão: “Deckard é ou não replicante?”. O “vilão” da história, Batty (na inesquecível interpretação de Rutger Hauer), só queria viver e acabou lamentando o fato de que os “momentos da sua vida se perderiam no tempo, como lágrimas na chuva” (a fala mais famosa do filme, escrita pelo próprio ator).
E quem de nós não sente o mesmo? Contudo, apesar de ser essa a opinião dele, algumas coisas não se perdem no tempo e podem ser redescobertas – Blade Runner é um exemplo disso. Nos anos 80, era um fracasso; nos 90, um cult; hoje, um clássico não apenas da ficção-científica, mas do cinema em geral.
Acredite, apesar de ser de 1982, só assiti a esse filme em 2012! Amo ficção e amei esse filme, sensacional!!!
Gostei do clima, das cores, da história, e até das perguntas não respondidas. Acho que isso faz a obra gerar discussão. Estou casanda de filmes que nos explicam tudo!
bjs
Antes tarde do que nunca, Lívia. Bom que gostou. Grandes filmes pra você.