Iggy Pop: o avô do punk se aventura no pop francês

Choque. Essa foi a reação dos fãs e da mídia quando Iggy Pop anunciou, em 2009, que iria lançar um CD com influências da chanson. Apesar de inesperado, se pensarmos bem, era uma das muitas possibilidades de um subversivo e irreverente integrante da comunidade punk.

I just got sick of listening to idiot thugs with guitars banging out crappy music”, ele disse na época.

Em Preliminaires (2009), Iggy abre e fecha o álbum com Les Feiulles Mortes, um poema de Jacques Prévert musicado por Joseph Kosma. Nos primeiros minutos, é fácil achar que se trata de um CD de Leonard Cohen. No restante do álbum, o avô do punk passeia sua voz grave por músicas com influências do jazz francês e de New Orleans – com destaque para a ótima King of the Dogs – e canta a versão em inglês de Insensatez, de Vinícius de Moraes.

A capa do álbum é trabalho de Marjane Satrapi, autora da historia em quadrinhos Persépolis, o que já é motivo para gostar do CD. Ela é amiga de Iggy desde 2007, quando ele deu voz ao tio da protagonista na versão animada do livro.

O veredito final é: a voz grave de Iggy Pop ainda é capaz de envolver, mas a maior parte do álbum cheira um pouco a decadência. O francês de Iggy é macarrônico, digno de um cantor de churrascaria, parafraseando o Lobão, mas quem mais se não um verdadeiro integrante do punk para violar os clássicos franceses.

A incursão na chanson française, no entanto, não parou por aí. O segundo CD, Après, lançado em maio deste ano, tem repertório e arranjos mais acertados. Après é para Iggy o que Kisses on the Bottom é para Paul McCartney: covers que relembram bons tempos. Essa não é a única relação entre Iggy e McCartney. Michelle, dos Beatles, ganhou uma versão adorável em Après. Ele também canta Serge Gainsbourg (La Javanaise), Georges Brassens (Les Passantes), Edith Piaf (La Vie En Rose), entre outros.

Ainda é muito cedo para saber se Iggy Pop vai continuar na língua de Piaf nos próximos CDs, mas acredito que com esses dois álbuns ele já fecha um ciclo. Para aqueles que se chocaram com a mudança de rumo em 2009, eu digo: o avô do punk não ficou gagá. Afinal, até os nomes dos CDs tem um quê de subversivo. Como foi bem observado por Lorena Calabria, “Preliminaires significa a mesma coisa em português. Antes e depois ganham assim uma conotação sexual. Safadinho, esse Iggy Pop, não? Sedutor, Iggy sempre foi. O que mudou foi a forma de seduzir. Atualmente, está disposto a canalizar na voz toda a energia sexual que exibia ao vivo, em performances que beirava a selvageria”.

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