Em 2012 faz dez anos que o diretor Paul W. S. Anderson e a sua estrela (e posteriormente esposa), a atriz Milla Jovovich, lançaram o primeiro filme da série Resident Evil. Baseado na popular franquia de videogames da produtora japonesa Capcom, a versão cinematográfica de Resident Evil, com o tempo, passou a trilhar um caminho próprio, independente do seu material de origem. Virou um catálogo das obsessões e referências cinematográficas de Anderson, também responsável pelos roteiros de todos os episódios.
Em termos práticos, quase tudo que aparece nos filmes da série você já viu antes em algum outro longa de ação, terror ou ficção-científica. E com Resident Evil: Retribuição (o quinto da série, e o terceiro dirigido por Anderson), a franquia começa a dar sinais de autocanibalização.
Retomando do ponto onde Recomeço (2010) parou, Retribuição inicia-se no navio-cargueiro, quando a heroína Alice (Jovovich) e seus companheiros são atacados ferozmente pela Corporação Umbrella. Capturada, ela é vítima de novas experiências – Alice chega a experimentar um breve momento de uma vida normal numa simulação – sendo posteriormente libertada por Ada Wong (Li Bingbing). Ambas iniciam então uma corrida contra o tempo dentro de um gigantesco complexo com vários ambientes que recriam partes de cidades (Tóquio, Nova York, Moscou), tendo como inimigo o computador central que controla o lugar. Um esquadrão da resistência está a caminho para ajudá-las, mas uma antiga aliada, Jill Valentine (Sienna Guillory), agora sob a influência da corporação, caça os heróis sem piedade.
Neste exemplar em particular, é até interessante como o roteiro de Anderson busca emular a estrutura de um game, com cada ambiente representando uma “fase”, mas isso infelizmente também deixa a história do filme muito superficial. As simulações e “clones” produzidos pela corporação também tornam possível o retorno de veteranos da franquia, como os atores Colin Salmon, Oded Fehr e Michelle Rodriguez, porém as participações deles são gratuitas e pouco acrescentam à história.
Tecnicamente, Retribuição é um filme bastante competente. O design da produção, o som e os efeitos visuais são, de forma geral, impressionantes. As sequências de ação, a maior virtude de Anderson como diretor, são bem concebidas e editadas. E, felizmente, a obsessão do diretor com câmera-lenta, que chegava a ser engraçada em Recomeço, está um pouco mais contida desta vez.
Esta boa produção, contudo, não esconde o fato de que RE: Retribuição não passa de uma colcha de retalhos de momentos de outros filmes. Ao longo da série, o diretor reverenciou filmes de zumbi de George Romero, a série Alien, as trilogias Mad Max e Matrix… Aliás, Anderson continua com sua obsessão com Matrix e Aliens: O Resgate (1986). As cenas de Alice no subúrbio copiam sem vergonha nenhuma a sequência de abertura de Madrugada dos Mortos (2004). E no final, quando os ambientes da instalação da Umbrella são inundados, percebe-se a tentativa de Anderson de fazer a sua versão de A Origem (2010) – até a trilha entrega.
Além disso, a trama é a mesma do primeiro Resident Evil: grupo de pessoas tentando escapar de um lugar confinado. , como sempre, o roteiro junta um bando de personagens e batiza alguns com nomes reconhecíveis dos games, para dar uma satisfação aos fãs do material fonte… No fim das contas, elementos dos anteriores são reciclados neste novo filme de forma preguiçosa e sem imaginação.
De forma esperta, Paul W. S. Anderson encerra este novo Resident Evil com a possibilidade de finalizar de vez a história no próximo capítulo. Afinal, ele mesmo parece ter consciência do fato de que, com o tempo, passou a canibalizar não apenas os filmes que mais lhe influenciaram, mas também os exemplares anteriores da sua saga. E um zumbi reanimado só consegue comer a si próprio até certo ponto.
Cotação: ★★ Regular