O PALHAÇO: ele emociona e faz rir, mesmo sem querer

Agora que O Palhaço foi escolhido como o representante brasileiro para disputar uma vaga no vindouro Oscar, tem-se a oportunidade perfeita para descobrir ou rever este grande trabalho cinematográfico.

 A vida de palhaço de circo aparenta ser uma grande comédia, mas para Benjamin ela deixou de ser engraçada. O protagonista de O Palhaço está disposto a deixá-la para conhecer um novo mundo, e a sua jornada comove, diverte e emociona o público neste extraordinário trabalho do diretor, roteirista e montador Selton Mello (que também faz o papel principal).

 Benjamin faz parte de uma trupe circense itinerante que se apresenta nos interiores do Brasil, numa história passada há algumas décadas. A trupe é composta de figuras emblemáticas do circo: o anão, a mulher gorda, o mágico, a moça bonita e exótica, os artistas de origem “estrangeira”, e a dupla de palhaços que se apresenta com grande sucesso, Benjamin como “Pangaré” e seu velho pai Valdemar como “Puro-Sangue” (Paulo José, excelente).

 Mas Benjamin está cansado da rotina no circo. Cansado de resolver os pequenos problemas dos seus companheiros, de estar sempre com pouco ou nenhum dinheiro, de não poder nem sequer comprar um ventilador. Sua insatisfação, aliada a um desejo de experimentar outro tipo de vida, leva a conflitos com a trupe e, eventualmente, à decisão de deixar o circo. Porém, o “mundo real” guardará algumas surpresas para ele…

 Selton Mello se revela, em O Palhaço, um diretor excepcional. Sempre atento às composições visuais, ele muitas vezes cria enquadramentos fantásticos com o auxílio da direção de arte e com a disposição de seus atores. São cenas que evocam lembranças dos trabalhos de Wes Anderson, como Os Excêntricos Tennenbaums (2001). Vários momentos de humor da narrativa são criados assim e, aliados à economia e inteligência dos atores, ficam ainda mais impagáveis. A direção de arte ainda apresenta alguns detalhes maravilhosos que dão mais vida aos personagens (por exemplo, a plaquinha do “Não atire nos músicos”).

 E quanto ao elenco, todas as atuações são excelentes, sem nenhuma nota dissonante. Além dos personagens do circo, ainda aparecem, em pequenas e marcantes participações, atores como Tonico Pereira (engraçadíssimo), Jackson Antunes (tocante) e Moacir Franco, entre outros.

Mas é graças aos belos trabalhos de Selton Mello e Paulo José que O Palhaço se torna uma experiência tão emocionante. Mello é preciso e econômico como Benjamin e engraçado (na maior parte do tempo) como Pangaré. Sua trajetória é sempre interessante, pois ele mantém o interesse do público, levando-o a se importar com seu personagem. Já Paulo José, mesmo envelhecido e um pouco frágil, é indescritível. Sua expressão, já próximo ao final do filme, quando ele recebe uma surpresa durante um espetáculo, é um grande momento do ator e digna de todos os prêmios possíveis.

 O palhaço faz todo mundo rir, mas o próprio Benjamin se queixa, em dado momento da história: “Quem é que me faz rir?”. Sua jornada em busca de uma nova vida o leva, inesperadamente (para ele), a redescobrir algumas coisas aparentemente perdidas. Todo mundo um dia precisa sair de casa – mas isso não significa que não seja bom voltar. O Palhaço é sensível e comovente, divertido e engraçado. Foi uma das grandes experiências cinematográficas de 2011.

 Cotação: ★★★★★ Excelente

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