DRIVE: o filme de ação mais estiloso do ano

Para quem dirige, geralmente o mais importante é o destino, onde se deseja chegar. Para o protagonista de Drive, o que realmente importa é dirigir. Assim ele ganha a vida – com carros. Seja trabalhando numa oficina, pilotando carros de corrida, ou realizando capotagens para filmes como dublê; sua existência se define pelo ato de dirigir automóveis.

Ocasionalmente, ele também se dedica ao crime, conduzindo bandidos de um lugar para o outro em fugas pela cidade que não ultrapassam cinco minutos, cronometrados no relógio. Ele nunca usa de violência nem participa dos assaltos – ele apenas dirige. Esse curioso personagem (que nem nome recebe) conduz o público numa viagem contada de forma muito incomum pelo diretor Nicolas Winding Refn.

 A vida do Motorista (vivido por Ryan Gosling) é relativamente agitada, mas só se complica mesmo quando ele se aproxima da sua vizinha, Irene (a sempre adorável Carey Mulligan). Irene tem um filho pequeno e aos poucos ambos se tornam uma espécie de família para o lacônico protagonista. O marido dela, Standard (Oscar Isaac), sai da prisão devendo para criminosos, e para ajudá-lo a quitar a dívida, o Motorista aceita ajudar Standard na fuga de um assalto. O plano simples acaba dando errado, e o protagonista e todos ao seu redor passam a correr perigo nas mãos dos perigosos gângsteres Nino (Ron Pearlman) e Bernie (Albert Brooks).

Drive já se assume como uma experiência diferenciada logo nos créditos de abertura. Rosados e com fonte caracteristicamente retrô, o filme já de cara nos remete a outra era do cinema, a era dos thrillers e filmes de ação com protagonistas profissionais e frios no exterior, mas que revelavam suas emoções interiores graças às suas atitudes.

Também remete a uma era onde esses mesmos filmes não eram editados no ritmo de videoclipe e a maioria dos diretores (e também do público) tinham paciência para esperar por coisas como desenvolvimento de personagens e antecipação. O diretor Refn faz de Drive algo como um filme dos anos 80 ambientado nos tempos atuais, porque sua história é mais próxima do cinema daquela época do que dos filmes de hoje.

Contribuem para essa sensação a deliciosa trilha de Cliff Martinez (com direito a canções), a direção de arte e o design geral da produção – repare como a maioria dos carros, inclusive os usados pelo Motorista, são antigos. E o personagem “Motorista” é construído como uma verdadeira peça de museu. É uma figura de poucas palavras e de grandes atos, na linhagem dos heróis misteriosos e silenciosos vividos por atores como Clint Eastwood, Steve McQueen e Alain Delon em tantos clássicos.

Tudo no Motorista é destinado para fazê-lo parecer o mais cool e cinematográfico possível: o eterno palito no canto da boca, o figurino (a jaqueta o deixa quase com um aspecto de super-herói), a sua meticulosidade… É preciso um grande ator para torná-lo humano e Ryan Gosling tem aqui mais um grande desempenho.

O show é dele, claro, mas o elenco todo está bem, especialmente Albert Brooks. Quase sempre visto em papéis cômicos, o ator surpreende. Seu Bernie não tem nada de engraçado, muito pelo contrário. O confronto final entre seu personagem e o de Gosling deve tornar-se inesquecível para o espectador.

Os momentos de violência e de ação acabam tendo grande impacto, justamente devido ao fato de Drive ser contido quase todo o tempo. As cenas de perseguição, apesar de poucas, são bem conduzidas por Refn e seu editor, e as lutas e instantes de violência chegam a ser chocantes na sua brutalidade. Drive é um espetáculo visual onde o clima é tão importante quanto à história.

O destino nunca é importante para o Motorista. Até mesmo a ambígua cena final segue a filosofia do protagonista da história – vemos um carro indo sem direção numa estrada escura. Drive é como um filme perdido dos anos 80, só agora descoberto. Como o Motorista, ele parece ter percorrido um longo caminho até chegar em 2012. Ser o passageiro nesse carro acaba sendo realmente uma experiência especial.

 Cotação: ★★★★★ Excelente

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