Como prometido, hoje eu apresento a vocês o segundo post sobre literatura erótica. O livro escolhido é O Monstro, do carioquíssimo Sérgio Sant’Anna, publicado pela Companhia das Letras. Para quem não sabe, o autor é conhecido por sua sofisticação literária, embora esteja longe de parecer “parnasiano”. Sem precisar apelar para expressões chulas, como muitos livros eróticos que há por aí, a maneira de Sant’Anna compor suas histórias funciona como uma espécie de carícia à imaginação do leitor.
No total, o livro reúne três contos: Uma carta, O Monstro e As cartas não mentem jamais. Misto de suspense e romance policial, com boas pinceladas erotismo, as narrativas são contadas em flashback pelos próprios personagens, onde o fio condutor é a posse do desejo. Mais do que isso, sem atribuir qualquer juízo de valor, Sant’Anna faz uma provocação: será que somos nós que controlamos os nossos desejos ou seriam os nossos desejos que de fato nos controlam? Alguém arriscaria um palpite?
Na medida em que as histórias avançam, elas vão se tornando mais excitantes. O que talvez te deixe um pouquinho decepcionado com o começo de O Monstro, caso você seja um leitor-impaciente, do tipo afoito para chegar logo ao clímax. Em Uma carta, o primeiro conto, a protagonista reconstrói o momento em que ela transa, no meio do mato, com um homem que ela acabara de conhecer. Loucura? Trata-se apenas de uma preliminar do que ainda está por vir.
Já O Monstro narra o estupro e assassinato de uma jovem deficiente visual cometidos por um professor de filosofia. O crime acontece na casa da namorada do rapaz, onde se desenrolam momentos de sedução entre os três personagens. Apesar de escrito em formato de entrevista, o conto é riquíssimo em detalhes. E os intervalos entre uma fala e outra são como espaços a serem preenchidos pelo leitor.
Finalmente, As cartas não mentem jamais é o mais requintado e, sem dúvida, prazeroso dos textos. Hospedado na cobertura de um cinco-estrelas, em Chicago, um pianista famoso aventura-se com uma adolescente de dezesseis anos. Para saciar a curiosidade da garota – “E a sua primeira vez, como foi?” – ele embaralha as cartas da vida e conta as experiências que o levaram até ali.
Contudo, como eu não estou a fim de tirar o prazer de quem ainda não leu o livro, deixo um trechinho do conto aqui:
– Toma mais uma taça de champanhe?
– Sim, por favor – ela diz, com uma voz fraca, longínqua, como se estivesse sendo arrancada de um lugar muito escondido dentro de si mesma.
Ele se levanta de um salto e vai até a mesa onde a garrafa está no balde com gelo junto a um grande buquê de flores vermelhas que lhe enviaram de tarde com um cartão que ele não se deu ao trabalho de ler, dentro de um envelope endereçado a Antônio Flores, ele.
O lençol foi removido quando ele se ergueu e assim ele pôde ver uma parte do corpo nu, delgado e muito branco sobre a cama. A moça deixou cair sobre o rosto os longos cabelos negros e ele advinha que ela faz isso para esconder os olhos, fingir que não se vê observada.
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