Com boom das fotografias pela internet, confira a entrevista que o fotojornalista Angelo Duarte (esse que aparece com a câmera na mão…!) compartilhou com o 7em1.
7em1: Como as páginas virtuais, tais como o Flickr e o Instagran, mudaram a relação das pessoas com a fotografia?
Angelo Duarte: Antes da imagem digital, o público usava câmeras analógicas, de filme. Então, você precisava revelar e fazer cópias, mesmo que isso levasse brevíssimos 45 minutos nos minis-laboratórios. Depois, você cuidadosamente enfeitava os álbuns de viagens, da família, dos amigos, etc. Hoje, as redes sociais permitem propagar tais fotos e álbuns pela rede de uma forma muito mais fácil. Mas tudo isso continua tendo um custo, embora quase não percebamos. Quanto custa uma câmera digital? Qual o preço a se pagar para ter os serviços de comunicação em casa? Existe um custo elevado em tudo isso. Agora, usar o recurso do Instagran não fará de você um gênio da fotografia. Você pode ter o equipamento que for, contudo se você não tiver um bom olho para fazer as fotos, a imagem vai ficar feia, fraca e banal. Por conta disso, tem muita gente achando que sabe fotografar. Claro, ficou mais simples com as opções disponíveis no mercado. No entanto, vai tentar tirar a câmera do automático e fotografar na opção manual…
7em1: Qual a diferença entre fazer o “tratamento” de uma imagem e a sua “edição”? E por que de uma hora para outro o Photoshop virou o vilão nessa história?
Angelo Duarte: Não sei se o Photoshop é vilão da história, mas a fotografia, mesmo analógica, de filme, já foi manipulada e ludibriou muita gente. No fotojornalismo, minha área, não é permitido manipular a imagem. Você trabalha os contrastes, dá corte para aproximar, faz pequenos ajustes. Ninguém vai acrescentar uma bola de futebol ou mudar o céu cinza pra um lindo azul e branco. Isso é muito usado na publicidade. Entendo edição como a seleção daquilo que de fato você precisa ilustrar. Se você fotografou um acidente de carro, por exemplo, precisa ilustrar as consequências deste acidente, descartando todo o resto. No caso de um jogo de futebol, a alegria do vencedor e o lamento do derrotado. Tratamento de imagem é diferente de manipular aquilo que você fotografou.
Greve dos Bombeiros (Angelo Duarte)
7em1: Com programas de edição e tecnologias cada vez mais acessíveis, o que um bom fotógrafo precisa para se diferenciar de profissionais amadores?
Angelo Duarte: Mergulhar nos livros de fotografia, principalmente de fotografia analógica. Visite sebos, bibliotecas e pesquise tudo sobre o assunto. Os manuais antigos são ótimos. Aprendi fotografia com filme, película em preto e branco. Claro que deixei de usar muita coisa. Mas o que aplico hoje, uso câmeras digitais desde 2003, aprendi com a fotografia analógica. Existem diversos cursos no Brasil, então faça um que seja recomendado. Veja o que você mais gosta em fotografia e comece fazendo pequenos trabalhos, mas com segurança. Como o custo continua sendo alto, sobretudo devido aos impostos praticados aqui, o melhor é trazer câmeras de fora, mesmo usadas. Estudar e gostar de fotografia fará com que você deixe de ser um amador.
John Malkovich (Angelo Duarte)
7em1: Observa-se pela internet, sobretudo, nas redes sociais, que a fotografia virou um recurso para espalhar calúnia ou fazer denuncismo. Que implicações isso traz para nossa sociedade?
Angelo Duarte: Muito se discute a respeito do que se deve ou não colocar nas redes sociais, a exemplo do Marco Regulatório, no Congresso Nacional, etc. Vai da ética de cada um. Porém, como tudo na vida, é preciso cuidado com o que vai ser dito ou mostrado, para não ouvir ou ver o que não te agrada. Outro dia, eu me lembrei de uma ideia discutida com os colegas da faculdade, antes do boom dos PCs, internet, etc: fazer um informativo para divulgar nossos projetos. Custava grana e tempo. Hoje também custa grana e tempo, mas qualquer um tem sua página, blog, e por aí vai. Os grandes jornais também publicam textos e fotos dos leitores. Isso já não era muito pensado pela minha geração. Na faculdade, era ótimo quando podíamos fazer um programinha na rádio, o jornalzinho do CA… Enfim, é muito complexo. Chega por hoje!!
Prisão do Nem, chefe do tráfico na Rocinha (Angelo Duarte)
Curtiu a entrevista e as fotos de Angelo Duarte? Então não deixe de visitar o site dele para conhecer melhor o seu trabalho: http://angeloduartefoto.weebly.com/