A Culpa é das Estrelas

JohneCulpa1

Quem é tão firme que não possa a ser seduzido?

Sheakspeare

No ano passado acompanhei todo o burburinho que A Culpa é das Estrelas (Ed. Intrínseca) causou quando foi lançado no Brasil e, desde então, ele entrou para a minha lista de must read, tanto que foi minha primeira leitura de 2013. Não sou fã de livros ‘jovem adulto’, mas o de John Green me conquistou.

Hazel Grace é uma paciente terminal de dezesseis anos. Seu diagnóstico? Um câncer de tireoide com metástase nos pulmões que faz com que estes não funcionem muito bem como pulmões. Por um milagre da medicina, seu tumor tinha encolhido bastante – o que lhe dá a promessa de viver por mais alguns anos. Escrevo tudo no presente do indicativo porque prefiro deixar a história no ponto em que ela terminou – o que já foi triste o bastante.

Hazel, a narradora, e Augustus Waters (dezesseis anos com “uma pitada de osteossarcoma”), se conhecem num grupo de apoio a jovens com câncer. A despeito das suas limitações, logo estão apaixonados, e é fácil entender por quê: os dois são engraçados e tratam o câncer com certa resignação, mas um humor inteligente, que desarma qualquer um.

“Sempre que você lê um folheto, uma página da Internet ou sei lá mais o que sobre câncer, a depressão aparece na lista dos efeitos colaterais. Só que, na verdade, ela não é efeito colateral do câncer. É um efeito colateral de se estar morrendo.”

A Culpa é das Estrelas é uma experiência. John Green nos leva numa montanha russa de sentimentos em que o final já é conhecido. Mas ele o faz com muita delicadeza e inteligência, guiando-nos através de uma história delicada sobre o amor, a morte e a vida. As tiradas de Hazel e Augustus podem parecer pretenciosas – como a de qualquer adolescente – mas têm sempre um toque de humor negro e de resignação. O resultado é um livro cheio de orelhas, porque é assim que eu marco as páginas que nunca quero esquecer. Selecionei algum dos trechos que mais me impactaram durante a leitura:

“Não há honra em se morrer de.”

“[…] o problema não é o sofrimento nem o esquecimento em si, mas a ausência imoral de sentido nisso tudo, o niilismo absolutamente inumano do sofrimento. […] o que nós queremos é ser notados pelo universo, fazer com que o universo dê alguma bola para o que acontece com a gente”.

“o tipo de clima que fazia você se lembrar, depois de um longo inverno, que ainda que o mundo não tivesse sido feito para os seres humanos, nós tínhamos sido feitos para o mundo”.

“as marcas que os seres humanos deixam são, com frequência, cicatrizes.”

Só por curiosidade, o título do livro vem de uma frase de Shakespeare – esse é o nível das “tiradas” de John Green. Ele explica assim a escolha:

Bem, na frase de Shakespeare, “estrelas” significam “destino”. No texto original, o nobre romano Cássio diz a Bruto: “A culpa, meu caro Bruto, não é de nossas estrelas / Mas de nós mesmos, que consentimos em ser inferiores.” Ou seja, não há nada de errado com o destino; o problema somos nós.  Bem, isso é válido quando estamos falando de Bruto e de Cássio. Mas não quando estamos falando de outras pessoas. Muitas delas sofrem desnecessariamente, não porque fizeram algo de errado nem porque são más ou sei lá o quê, mas porque dão azar. Na verdade, as estrelas têm muita culpa, sim, e eu quis escrever um livro sobre como vivemos num mundo que não é justo, e sobre ser ou não possível viver uma vida plena e significativa mesmo que não se chegue a vivê-la num grande palco, como Cássio e Bruto.

E você, já leu A Culpa é das Estrelas? O que achou? Se ainda não leu, corra, porque vale a pena. Só não esquece da sua caixinha de lenços.

Amanda - assinatura PNG

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