A abertura de Jack Reacher: O Último Tiro é assustadora e também muito interessante do ponto de vista cinematográfico. Nesses primeiros minutos vemos, sem diálogos, um homem armado com um rifle de franco-atirador. É um daqueles momentos terríveis de vez em quando observados na vida real: atirando de um prédio à distância, o homem mata cinco pessoas que passavam na rua.
Mais tarde a polícia prende o suspeito – e a investigação também é mostrada de forma puramente visual logo no inicio, sem a necessidade de diálogos. Ao ser interrogado, o prisioneiro apenas escreve num papel a seguinte frase: “Encontrem Jack Reacher”. Quando esta enigmática figura vivida por Tom Cruise entra em cena, começa uma trama de suspense bem engendrada pelo diretor e roteirista Christopher McQuarrie, baseando-se num dos livros da série de sucesso do escritor Lee Child.
Reacher é um ex-militar que conhecia o suspeito, um homem incapaz de ser localizado por viver se mudando. Ele é treinado em armas e combate, lutou pelo país mas resolveu esconder-se de tudo. No entanto, envolve-se na investigação a pedido de Helen (Rosamund Pike), a advogada do suspeito. Claro, o caso não será tão simples e logo os personagens veem-se envolvidos com figuras bem ameaçadoras. No entanto, esses criminosos não sabem com quem estão mexendo…
Nos seus melhores momentos, Jack Reacher assemelha-se a um daqueles suspenses paranoicos da década de 70, e esse deve ter sido o parâmetro para a produção. McQuarrie entende um pouco de suspense – venceu o Oscar de roteiro por Os Suspeitos (1995), e já havia roteirizado para Tom Cruise o filme Operação Valquíria (2008). O clima de ameaça é mantido ao longo da história, com direito a ideias criativas de direção, como a já citada abertura silenciosa e alguns ângulos de câmera inspirados (a forma como Reacher percebe que um dos detetives está prestes a começar a perseguí-lo é feita mostrando detalhes: um close de Cruise rangendo os dentes, um plano da mão dele engatando a marcha, outro do seu carro…).
E não deixa de ser refrescante o fato das reviravoltas na trama serem tratadas de forma bem natural. E quanto ao elenco, temos um sólido grupo de atores no filme, com as presenças de Richard Jenkins, David Oyelowo, Jai Courtnay, o lendário Robert Duvall e a já mencionada Rosamund Pike. E num lance inspiradíssimo da escalação do elenco, o chefe dos vilões é vivido de forma misteriosa e ameaçadora pelo renomado cineasta alemão Werner Herzog – ele mesmo, de Fitzcarraldo (1982).
Claro que o filme não escapa de uns clichês: o clima de flerte entre o herói e a bela advogada, o quase obrigatório momento da perseguição de carros, o personagem traidor… Não há nada de realmente novo em Jack Reacher, mas o filme faz um bom uso desses ingredientes e eles não chegam a atrapalhar o entretenimento. Se esses clichês dramáticos não atrapalham, é porque o filme tem um centro muito forte e definido na figura de Tom Cruise. Aqui o ator tem mais um daqueles seus desempenhos intensos, sempre convincente seja como herói de ação ou como um cara inteligente.
Jack Reacher: O Último Tiro não deve virar o filme de vida de ninguém, mas é bem contado e envolve o espectador. Já faz tempo que Tom Cruise não é desafiado como ator – e esquisitices à parte, ele é um bom ator, sempre que recebeu um grande papel dramático ele não decepcionou. Hoje em dia ele está mais para um showman, alguém cujos projetos são garantia de um bom entretenimento. Para o publico que busca esquecer os problemas por algumas horas e ser entretido no cinema sem maiores complicações, os filmes de Cruise geralmente valem o ingresso, e Jack Reacher não é exceção.
Cotação: ★★★ Bom