“As pessoas nunca deveriam saber como são feitas as salsichas e as leis.”
– Otto von Bismarck (1815-1898), chanceler alemão.
Não é de hoje que fatos e boatos sobre ingredientes utilizados na produção de determinados alimentos se proliferam na Internet, ameaçando a imagem e o lucro de grandes empresas do setor alimentício. Na última semana, após análise de autoridades sanitárias, os ingleses descobriram que comiam carne de cavalo no hambúrguer – e traços de carne suína –, provenientes de três empresas de processamento de comida, duas na Irlanda e uma na Grã-Bretanha, e comercializadas nas prateleiras das redes de supermercado Tesco, Lidl, Aldi, Iceland e Dunnes. No rótulo, a propaganda enganosa: alimento 100% bovino.
No Brasil, se come, em maior ou menor proporção, desde as tradicionais carnes de boi, de frango, de peixe e de porco até as mais exóticas carnes de jacaré, de paca, de tatu, de capivara, de carneiro, de cordeiro, de javali, de pato, de lagarto, de rã, de cobra, de coelho e de gato (basta lembrar-se dos famosos churrasquinhos de rua).
Aquilo que para nós, brasileiros, ainda é tabu ou “culinária bizarra”, em outros países é, culturalmente, natural e representa opções mais baratas, saudáveis, nutritivas, limpas ou ecológicas, de acordo com cada processo produtivo. A carne de cavalo, por exemplo, tornou-se popular em alguns países da Ásia e da Europa, principalmente na França, Bélgica e Itália – e o Brasil é um dos maiores exportadores (cerca de 15 mil toneladas/ano). Em geral, a carne equina é utilizada na produção de salames, mortadelas, salsichas e afins. E será que a mesma não é consumida por aqui também?
Além do cavalo, eis aqui uma lista de animais que, de acordo com o site HipeScience, em algumas regiões do mundo, já fazem parte do cardápio e são bastante apreciados: elefante, gorilas e chimpanzés (África), bichos-da-seda (Coreia), formigas, baiacú, rato (Ásia), tartarugas (em menor escala, já que muitas espécies estão em extinção), aranhas (Camboja), cachorros (Ásia).
A salsicha
Agora pense em um suculento cachorro-quente.
Ainda que apresente um rigoroso padrão de produção e de higienização, a salsicha tradicional é feita com sobras de qualquer pedaço de boi, porco ou frango, que, certamente, ninguém gostaria de ver antes de comer. É uma mistura de carne picada ou moída de cortes tradicionais e partes pouco apreciadas, como as bochechas, o cérebro, os lábios, as pálpebras, as vísceras e outros pedaços indesejáveis destes animais. E, como mostra o vídeo a seguir, tudo misturado a muito sal, condimentos, conservantes e corantes artificiais:
100% carne bovina
Quem não se lembra de um boato antigo, que data do final dos anos 70, espalhando que os hambúrgueres da gigantesca rede de fast food McDonalds eram feitos com minhocas, eram transgênicos e continham amônia?
Verdade ou não, para explicar o gosto diferente dos hambúrgueres caseiros, a rede responde e, hoje, estampa suas embalagens com selos que indicam que a carne é 100% bovina (oriunda do ombro, peito, pescoço, costas e pernas do boi) e com temperos. O Angus, uma das últimas novidades na rede, seria a única carne diferenciada, produzida com outra raça do animal, mas que também consideraria as mesmas partes do boi. E como o humor é a maneira mais eficaz, nos planos de marketing, para contornar um boato, gerenciar uma crise ou uma pesada crítica à empresa, principalmente na era das redes sociais em que a informação e os protestos se disseminam em frações de segundos, é comum ver os próprios funcionários aderirem à gozação:
“A história da carne de minhoca é clássica. Sempre que mencionam, falo que nossas minhocas são bem cuidadas e muito limpas” – Ronaldo Nascimento, assistente administrativo da franquia em São Paulo.
O coração (ou o estômago!) não sente
Mesmo estando por dentro de todos os bastidores da cadeia de produção destes alimentos, dificilmente, alguém irá deixar de comer as apetitosas salsichas ou hambúrgueres – e os números comprovam isto (O MacDonalds apresentou um faturamento de US$ 12,1 milhões no segundo trimestre de 2012, só na América Latina – segundo o portal Valor Online). Nessa história toda, o importante é que o consumidor não seja enganado. Por isso: leia rótulos. Pesquise. E coma consciente!