Django Livre: a escravidão e a libertação de um negro

django

Há algum tempo, uma figura percorria o Velho Oeste americano carregando um caixão. Dentro dele não havia um corpo, mas sim armas, que tal pistoleiro usava para matar criminosos. Esse era o Django, de Sergio Corbucci. O filme, apesar de ser um faroeste, não foi gravado nos Estados Unidos – foi um dos spaghetti westerns, produções rodadas na Itália ou Espanha, por italianos. Tudo neles era recriado e eles não seguiam propriamente os fatos históricos. Eles eram falsos e por isso mesmo, às vezes, diziam algumas verdades que os faroestes americanos não diziam.

Leonardo DiCaprio em DJANGO LIVRECorta para 2012. O diretor e roteirista Quentin Tarantino nos traz a sua versão do Django. Aqui, ele é um escravo, apresentado ao som da canção do filme de Corbucci. Ele é libertado por um cidadão que se diz dentista, o dr. King Schultz (Christoph Waltz). Schultz precisa de Django (Jamie Foxx) para identificar alguns bandidos – o bom dentista na verdade é um caçador de recompensas. Após algumas caçadas bem sucedidas, Schultz propõe a Django uma parceria, mas o objetivo de vida do ex-escravo é reencontrar a sua esposa, Brunhilde (Kerry Washington). Schultz se dispõe a ajudá-lo, e logo ambos partem para a fazenda no Mississippi onde está Brunhilde, a Candyland, propriedade do terrível Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).

Sempre se soube que um dia Tarantino realizaria um faroeste. Com Django Livre, ele exercita sua habitual criatividade para brincar com os elementos do gênero. Django é um faroeste dos bons, com duelos, cenários naturais e personagens com tons de cinza – bandidos e assassinos sim, mas seguidores dos seus próprios códigos. Ao situar o filme no período escravocrata, e fazer do seu herói um negro, Tarantino toca na ferida do racismo americano, ferida ainda sensível, pelo que se pode observar. Django é um negro resgatado por um branco, mas que rapidamente se torna seu próprio homem.

Django escravoA partir dali, ele impulsionará a narrativa. Candyland é o inferno para os negros, um lugar onde os escravos são postos para lutar e onde há várias formas de tirania sobre eles. O braço direito de Candie é Stephen (Samuel L. Jackson), personagem assustador e completamente repulsivo. Ficou tanto tempo subserviente ao patrão branco que se tornou uma aberração. Django Livre tem um clima divertido e um ritmo mais bem dosado do que o trabalho anterior do diretor, Bastardos Inglórios (2009). Tarantino também usa sua conhecida irreverência para zombar do racismo absurdo – a discussão entre os mascarados é, além de engraçadíssima, feita para mostrar o quão inacreditáveis eram aqueles tempos.

E o elenco, tem algumas das melhores interpretações de sua carreira trabalhando com o diretor. Foxx é perfeito no papel do herói, sempre carismático e forte. Waltz não repete o personagem de Bastardos Inglórios, pois enquanto o Hans Landa era dissimulado, o dr. Schultz é esclarecido e humanista, apesar de ser um matador. A repulsa dele pela escravidão é a nossa repulsa, e ele acaba se tornando uma figura simpática. DiCaprio e Jackson são figuras de pesadelos e vilões perfeitos. O próprio Tarantino aparece numa cena, e seu destino é um dos melhores e mais divertido momentos do longa.

Christoph Waltz e Jamie Foxx em DJANGO LIVRE

Embora alguns espectadores neguem, a revolta e posterior vingança de Django é algo extremamente satisfatório do ponto de vista emocional. É essa satisfação, essa catarse, que Tarantino deseja incutir no espectador. Dentro do seu estilo, o diretor é o “deus” absoluto, tendo a liberdade até para modificar a história. Tanto em Bastardos Inglórios quanto em Django Livre vemos o enredo ser reescrito pelo cineasta. Esse é o poder do contador de histórias, e muitos não se dão conta disso: tudo é possível. Em Django Livre o cinema se liberta de todas as correntes.

Cotação: ★★★★★ Excelente

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