A trajetória de Arnold Schwarzenegger é surpreendente. O austríaco, ex-campeão de fisiculturismo, foi para os Estados Unidos com o improvável sonho de se tornar astro do cinema, apesar de não possuir nenhum talento como intérprete. Porém, uma coisa ele tinha a seu favor: carisma. E por um tempo, ele realmente foi um dos maiores astros do cinema mundial.
Nos últimos anos, Schwarzenegger voltou-se para a política e deixou o cinema. O Último Desafio assinala seu retorno definitivo às telas como protagonista – a última vez que ele tinha protagonizado um filme foi com O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas (2003), há dez anos.
Com O Último Desafio, Schwarzenegger de certa forma completa um ciclo em sua carreira. Embora não deva se tornar um dos destaques da filmografia do ator, o filme certamente demonstra que agora ele já pode ser considerado praticamente americano. Trata-se de uma versão cheia de ação do faroeste clássico de Howard Hawks Onde Começa o Inferno (1959), temperado com pitadas de Velozes e Furiosos (2001).
O xerife Ray Owens (Schwarzenegger) adora o trabalho pacato na sua cidadezinha próxima à fronteira com o México. Porém, sua tranquilidade está para acabar, pois um grande chefão do cartel das drogas (vivido por Eduardo Noriega) escapou da prisão e está rumando para a fronteira a bordo de um carro altamente veloz. Em breve, ele passará pela cidade, e cabe ao xerife e seus assistentes detê-lo, junto com seus comparsas, que invadem o lugar para auxiliá-lo.
O diretor coreano Kim Jee-Woon, estreando em Hollywood, mantém a história em movimento e com um tom despretensioso, próximo dos filmes de ação dos anos 80. O resultado é um filme leve e que não se estende além do necessário. Embora o roteiro contenha as inverossimilhanças de praxe, pelo menos um desenvolvimento na trama (um traidor) poderia ter sido cortado sem problemas. A edição de algumas cenas de ação é demasiadamente picotada, de acordo com a cartilha atual – especificamente a fuga do vilão – e um pouco mais de calma deixaria esses momentos melhores e mais compreensíveis.
Felizmente, o filme cerca o velho protagonista com bons atores. O Último Desafio tem Forest Whitaker como o agente do FBI, Peter Stormare (caricato mas divertido) como um dos vilões, o sempre confiável Luis Guzmán, e Rodrigo Santoro se sai bem interpretando “um veterano do Iraque e do Afeganistão”. Esses atores muitas vezes seguram a barra do roteiro e trazem um pouco de peso aos seus personagens. Por isso, é uma pena que o completamente sem graça Johnny Knoxville tenha permissão para estragar algumas cenas.
Porém, é Arnold Schwarzenegger a estrela do espetáculo. Ele já não tira a camisa, não se move com tanta rapidez, tem cabelos a menos e algumas rugas a mais, contudo ainda lhe resta um pouco de carisma para queimar. Em O Último Desafio, ele interpreta um tipo arquetípico do cinema americano. Como John Wayne em Onde Começa o Inferno, o xerife tem que se virar e contar apenas com seus amigos para combater os malfeitores. Ao fazer o xerife, Schwarzenegger efetivamente marca sua presença na cultura americana. Ele chega a dizer ao vilão em dado momento, que “pessoas como ele dão má fama aos imigrantes”. Ele deve saber: afinal, é o imigrante que deu certo.
Cotação: ★★★ Bom