Publicado em 1862, o livro Os Miseráveis, do escritor francês Victor Hugo, é um épico humano sobre tornar-se uma pessoa melhor e aprender a amar ao próximo. A história, rica em situações dramáticas, já foi diversas vezes adaptada para o cinema e teatro, na forma de musical. Agora, a nova versão de “Os Miseráveis” leva o musical também às telas do cinema.
Tudo se passa em 1815, quando o condenado Jean Valjean (Hugh Jackman) é libertado após ficar 19 anos no cárcere, por ter roubado um pão para alimentar sua família. Na prisão, Valjean torna-se um homem bruto e, na primeira oportunidade, reincide ao crime, roubando a prataria do Bispo de Digne, que o acolheu uma noite.
Ao ser preso e trazido diante do Bispo, Valjean se surpreende quando este afirma à policia que os itens roubados, na verdade, foram doados ao fugitivo. A atitude do Bispo transforma Valjean, sobretudo, quando o religioso lhe diz para usar os valiosos itens de prata para fazer o bem e ser um homem honesto.
Valjean, então, reconstrói sua vida, chegando a se tornar um influente prefeito. No entanto, está sempre sob a suspeita do implacável inspetor Javert (Russell Crowe), que guarda lembranças do antigo prisioneiro. Valjean toma para si a missão de ajudar a ex-empregada Fantine (Anne Hathaway), que se voltou para a prostituição, e a filha desta, a pequena Cosette. As trajetórias desses personagens colidem ao longo dos anos, chegando a um confronto definitivo durante os eventos da revolução de 1832.
No comando de Os Miseráveis está o diretor Tom Hooper, vencedor do Oscar pelo bom, porém superestimado O Discurso do Rei (2010). No filme, quase todos os diálogos são cantados. Trata-se de uma produção grandiosa – direção de arte, figurinos e fotografia; e isso fica claro desde a espetacular cena inicial, quando vemos um grupo de condenados puxando um navio em meio a uma chuva torrencial.
No geral, Os Miseráveis é um bom filme, e só não chega a ser melhor devido a algumas escolhas questionáveis do diretor. Para começar, é um filme basicamente de closes e planos médios – Hooper busca, diversas vezes, nos aproximar dos seus intérpretes usando a câmera, algo impossível no teatro. No entanto, essa abordagem não apenas limita o filme visualmente, como também a participação dos atores.
Hugh Jackman e Anne Hathaway, já acostumados a cantar nos palcos, estão fenomenais em seus papéis. Jackman é o Valjean perfeito, canta bem e retrata com perfeição os dilemas do protagonista. Já Hathaway extrai o máximo da personagem Fantine para comover o espectador – sua interpretação da canção I Dreamed a Dream, a mais famosa do musical, filmada praticamente sem cortes, é o grande momento do filme.
Já outros intérpretes têm visíveis problemas, acentuados ainda mais pela forma como foram filmados. Russell Crowe mostra-se hesitante como Javert, e claramente não canta bem como seus companheiros. Na cena da canção Stars, a câmera está praticamente enfiada na cara do ator, e isso não ajuda em nada a sua já claudicante interpretação. Curiosamente, Crowe está ótimo, como sempre, nos momentos em que Javert não precisa cantar. Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, como os vilões trambiqueiros Thénardier, parecem deslocados. Eddie Redmayne como o revolucionário Marius e Samantha Barks como Éponine, no entanto, destacam-se positivamente – Samantha chega a roubar algumas cenas com sua interpretação comovente.
A grandiosa história criada por Victor Hugo é perfeita para esse tipo de produção “maior que a vida”. No entanto, um pouco mais de equilíbrio teria melhorado o filme, talvez até ao ponto de situar Os Miseráveis entre os grandes musicais do cinema. A história se presta ao espetáculo, pena que o coordenador do espetáculo se perdeu em meio a toda a grandiosidade.
Título: Os Miseráveis (Les Misérables)
Dirigido por: Tom Hooper
Gênero: Musical/Drama
Ano: 2012
Nacionalidade: EUA/Inglaterra
Avaliação: ★★★ Bom
Pingback: Especial Oscar 2013 « 7 em 1
Pingback: E o Oscar vai para… | 7 em 1