Pat tem um problema: ele está louco. Melhor dizendo, sofre de transtorno bipolar, desencadeado por stress, como diz seu psicólogo. Obcecado pela ex-esposa, Pat acabou de ser liberado do hospital psiquiátrico para voltar a viver com os pais. No entanto, ele se recusa a tomar a medicação para mostrar a todos que está bem. Curiosamente, os pais dele não parecem estar em melhor estado – o pai vive de apostas sobre jogos de futebol americano e cismou que o filho é um amuleto, capaz de trazer sorte para o time.
Uma noite, ao jantar com amigos da ex-esposa, Pat conhece Tiffany. Ela é uma jovem linda, viúva, absolutamente perturbada, viciada em sexo e está em recuperação – talvez por isso, ambos se dão bem instantaneamente. Afinal, existe um jeito melhor de conhecer alguém do que conversar sobre quais remédios foram tomados após uma crise nervosa? A convivência muda a vida deles e se torna o centro de O Lado Bom da Vida.
De transtornos emocionais e loucura, o diretor David O. Russell entende um pouco. Afinal, são notórias as explosões de temperamento e os desentendimentos dele com alguns atores durante as filmagens de antigos projetos. Ao adaptar o livro do escritor Matthew Quick, Russell fez de O Lado Bom da Vida um filme bem pessoal e com uma visão inusitada sobre os problemas psicológicos dos personagens. Ao assistir ao filme, o espectador fica com a sensação de que Pat, embora obviamente “não bata muito bem da bola”, não é tão diferente assim das demais figuras que o cercam.
Russell ressalta a tensão e loucura da história ao usar a câmera quase sempre na mão – os movimentos bruscos e enquadramentos tremidos dão energia ao longa. Ademais, é um filme de elenco, feito para fazer os atores brilharem, e nesse quesito não desaponta. Bradley Cooper se despe do seu jeitão despreocupado visto em tantas comédias e se mostra intenso no papel do protagonista. Jennifer Lawrence, como Tiffany, está simplesmente espetacular, trazendo sua já reconhecida força – evidenciada como protagonista de Inverno da Alma (2010) e Jogos Vorazes (2012) – a uma personagem mais adulta e que poderia facilmente cair no clichê. E Robert De Niro, como o supersticioso pai de Pat, sai do piloto automático no qual sua carreira entrou nos últimos anos e mostra mais uma boa atuação.
São os atores e a visão de David O. Russell que tornam O Lado Bom da Vida um filme divertido. No filme, ninguém é completamente louco ou são, e praticamente todos possuem algum grau de insanidade. O psicólogo que se revela capaz de entrar numa briga de torcedores, ou o pai de Pat incapaz de perceber o absurdo da sua superstição, ou Ronnie, com seu casamento em crise – todos parecem menos ajustados, por exemplo, do que o personagem de Chris Tucker, Danny, um amigo que Pat fez durante sua estadia no hospital. O contraste entre o problemático protagonista e a forma como os demais personagens se comportam é fonte de grande parte do humor do filme.
É por isso que Pat e Tiffany se dão bem. Ambos se tornaram tão estranhos e incomuns devido às circunstâncias que acabam se aceitando, após um período de aclimatação. Essa aceitação, com o tempo, desperta outro sentimento mais intenso entre os dois. No final, O Lado Bom da Vida é mais um daqueles filmes onde tudo se resolve para o protagonista quando ele arruma uma namorada, não importa a extensão dos seus problemas. O amor como solução absoluta para os dramas da vida ou para problemas psicológicos é uma ideia falsa e até mesmo perigosa, mas neste caso David O. Russell e seus atores até que nos fazem acreditar. Isso, claro, até a próxima crise. Embora no cinema, a próxima crise raramente seja mostrada.
Ficha Técnica:
Título: O lado bom da vida (Silver Linings Playbook)
Dirigido por: David O. Russell
Gênero: Comédia/Romance
Ano: 2012
Nacionalidade: EUA
Avaliação: ★★★ Bom
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