Caça aos Gângsteres

A vinheta do estúdio Warner Bros., que produziu muitos dos melhores filmes de mafiosos e criminosos da história do cinema, aparece no inicio de Caça aos Gângsteres. Ela deveria ser um motivo de orgulho para os realizadores, pena que o projeto seja tão fraco e indigno da tradição do estúdio.

O filme se passa em Los Angeles, no final da década de 40. O chefão do crime Mickey Cohen (interpretado por Sean Penn) veio de Nova York para consolidar seu domínio mafioso em LA. Cohen fica cada vez mais poderoso, até que a polícia resolve desafiá-lo: é nomeado um esquadrão secreto para acabar com os negócios do chefão, liderado pelo sargento John O’Mara (Josh Brolin). O esquadrão opera fora da lei e tem permissão para usar qualquer meio necessário para atingir seu objetivo. O’Mara recruta seus homens – entre eles o cínico sargento Jerry Wooster (Ryan Gosling) – e o grupo declara guerra a Cohen.

Quando se fala em filme de gângster e esquadrão de policiais, imediatamente nos lembramos de Os Intocáveis (1987). Porém, mencionar Caça aos Gângsteres e Os Intocáveis na mesma frase não traz nenhuma vantagem ao filme mais novo, pois o diretor Ruben Fleischer erra em todos os aspectos que deram certo no clássico moderno do diretor Brian De Palma. Enquanto Os Intocáveis tinha um vilão de peso e personagens interessantes e bem definidos, Caça aos Gângsteres é povoado por figuras sem profundidade combatendo um vilão caricato.

Embora Os Intocáveis, na verdade, contasse uma história fictícia – o grupo de Eliot Ness nunca combateu Al Capone – ele ainda parece mais realista do que Caça aos Gângsteres, que se diz inspirado por uma história real logo no letreiro de abertura, contudo não perde nenhuma oportunidade de enfeitar os acontecimentos. De fato, Ruben Fleischer, diretor revelado pelo divertido mas esquecível Zumbilândia (2009), faz um filme de ação genérico, que tem apenas pose de exemplar de gângster.

O roteiro do novato Will Beall também é fraco. As situações se repetem: o esquadrão dá um golpe espetacular contra a organização de Mickey Cohen, este fica possesso e mata um capanga e/ou associado. Quando isso acontece pela terceira vez durante a projeção, a falta de imaginação do roteirista fica clara para o público.

Até a condução do elenco é equivocada, apesar de o filme estar repleto de atores de respeito. Como os personagens são rasos, atores como Emma Stone e Ryan Gosling se limitam a fazer tipo. Stone só precisa ficar bonita num vestido vermelho – pelo menos isso ela consegue. Já Gosling, supreendentemente, se mostra um canastrão inexpressivo, adotando um tom de voz estranho.

Josh Brolin e Giovanni Ribisi são os únicos que se salvam, conferindo um pouco de dignidade aos personagens. Finalmente, Sean Penn tem em Mickey Cohen a pior interpretação da sua carreira. Caricato em vários momentos, ele ainda é prejudicado pela maquiagem, que o deixa parecido com um dos vilões cômicos de Dick Tracy (1990). O resultado é patético: um vilão aparentemente ameaçador acaba se tornando involuntariamente engraçado.

Apenas os aspectos técnicos salvam o filme – a direção de arte, os figurinos e o visual geral da obra. Entretanto, isso não é mais que o esperado para uma grande produção como esta. Caça aos Gângsteres, com um grande elenco e uma história interessante, tinha tudo para dar certo. No entanto, fracassa justamente pelas suas deficiências básicas – um roteiro fraco e uma direção medíocre. Falha por incompetência dos seus comandantes. É um caso de, para manter a analogia com a máfia, de botar a culpa no chefão.

Ficha Técnica: