Somos fascinados pela figura do herói. Ainda mais hoje, quando todo mundo pode se tornar uma celebridade por alguns minutos. O cara que salva muitas vidas, ou é capaz de executar uma façanha aparentemente impossível, logo se torna alvo de curiosidade da imprensa e da sociedade. Porém, Whip Whitman, protagonista de O Voo, vira herói devido a circunstâncias extremas.
Ele é um ídolo com pés de barro, o sujeito menos admirável que se possa imaginar. Interpretado por Denzel Washington, Whitman bebe muito e é usuário de cocaína. É também piloto de avião, porém do tipo que não deixa o trabalho atrapalhar sua bebedeira. No primeiro ato do filme, uma emergência transforma-o em herói: uma pane no avião obriga-o a tomar atitudes desesperadas para salvar a aeronave.
Os problemas começam após o pouso forçado. Um exame toxicológico atesta que Whitman havia consumido bebida e drogas antes do voo. Ele é ameaçado de prisão, pois apesar de a manobra ter salvado o avião, alguns passageiros morreram. Ainda assim, a companhia aérea prefere varrer os detalhes embaraçosos da vida de Whitman para debaixo do tapete…
O Voo marca o retorno do diretor Robert Zemeckis. Após dirigir alguns dos maiores sucessos dos últimos 30 anos, como a trilogia De Volta Para o Futuro ou o oscarizado Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994), Zemeckis passou a última década fazendo longas animados por captura de performance. O Voo é seu primeiro filme com atores reais desde Náufrago (2000), que curiosamente também tinha uma cena impactante de desastre aéreo.
Zemeckis é um cineasta eminentemente técnico, e sua perícia para criar momentos cinematográficos impressionantes está bem à mostra em O Voo. A sequência da queda do avião é extraordinariamente bem feita – e angustiante para quem já voou num. A montagem precisa e os efeitos visuais e físicos (como o cenário que gira) permitem ao espectador compreender as manobras do piloto e suas atitudes durante a sequência.
O diretor também tem uma mão boa para conduzir o elenco. Denzel Washington, obviamente, é a estrela do show, mas no filme todos os atores brilham. Seja a carente ex-viciada interpretada por Kelly Reilly, ou os sempre eficientes Don Cheadle e Bruce Greenwood como os defensores de Whitman; todas as atuações são consistentes e reais. E pelo menos dois atores roubam cenas, embora apareçam pouco: James Badge Dale, como um paciente de câncer que conversa com Whitman e sua nova amiga na escadaria do hospital, e John Goodman, como um velho amigo – e fornecedor de drogas – do protagonista.
E Washington tem mais uma grande atuação. O ator merece elogios por sua coragem em encarnar um sujeito tão desagradável quanto Whitman, e seu desempenho é sempre sólido. O carisma do ator impede o público de perder o interesse pelo personagem, apesar das inúmeras atitudes questionáveis.
Nos seus melhores momentos, O Voo parece um daqueles estudos de personagem que o cinema americano costumava fazer com mais frequência nos anos 70. É um drama sério que não tem medo de mostrar o lado mais feio de seu protagonista. Por isso, é uma pena que o desfecho seja meio forçado e artificial, igual a dezenas de outros longas hollywoodianos já vistos. É como se o diretor não tivesse a gana de sustentar até o fim a interessante ideia inicial de que mesmo pessoas com defeitos e problemas podem, sim, ser capazes de grandes atos.
Título: O Voo (Flight)
Dirigido por: Robert Zemeckis
Gênero: Drama
Ano: 2012
Nacionalidade: EUA
Avaliação: ★★★ Bom
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