Nem sempre o melhor livro é aquele que é premiado. Vencedor do Pulitzer de Ficção 2011, A visita cruel do tempo (Instríseca, 335 páginas), de Jennifer Egan, deixa muito a desejar. O livro é um prato cheio, para não dizer armadilha, àqueles que se impressionam ou mesmo julgam uma obra pela quantidade de prêmios que ela recebe.
De fato, não é preciso ser um leitor muito atento para constatar as dezenas de menções honrosas estampadas na capa e contracapa: além do já citado Pulitzer, logo abaixo do título; a obra foi vencedora do National Book Critics Circle Award; do Los Angeles Times Book Prize e do Tournament of Books.
Somam-se a tais prêmios críticas prá lá de positivas de jornais e revistas, como: Los Angeles Times, Elle, The Chicago Tribune, The Guardian, Newsweek, The New York Times, The New York Time Book Review, O. The Oprah Magazine, San Francisco Chronicle, The Telegraph, Time e The Washington Post. Em síntese, como publicou o Los Angeles Times, “o melhor livro que você tem nas mãos.”
É aí que o tiro sai pela culatra: A visita cruel do tempo vende – a palavra exata é essa – um tipo de literatura que simplesmente não consegue suprir. Logo, as chances do leitor se desapontar com o texto são enormes, embora sempre haja espaço para o conformismo – “Ok, se disseram que o livro é bom, deve ser bom mesmo, apesar de eu não ter gostado”.
Mas, vamos à criação de Egan:
“Bennie Salazar é um executivo da indústria musical. Ex-integrante de uma banda punk rock, ele foi o responsável pela descoberta e pelo sucesso dos Conduits, cujo guitarrista, Bosco, era um cara com tanta energia no palco que fazia Iggy Pop parecer tranquilo. Jule Jones é um repórter de celebridades preso por atacar uma atriz durante uma entrevista e vê na última turnê de Bosco a oportunidade de reeguer a própria carreira. Jules é irmão de Stephanie, casada com Bernnie, que teve como mentor Lou, um produtor musical viciado em cocaína. E Sasha é a assistente cleptomaníaca de Bennie.”
Apesar da gama de personagens, o verdadeiro protagonista da história é o tempo, cuja passagem se mostra cruel, exatamente como o título revela. Afinal, crescer traz responsabilidades, implica correr riscos, ter de fazer escolhas e se decepcionar quando tudo dá errado. O livro tem um pezinho no gênero alto-ajuda, no sentido de dizer: “Mas você pode mudar sua vida, pode fazer melhor que isso”.
Até aí, nada de original. Não é segredo que a autora bebeu nas fontes de Em busca do tempo perdido (Marcel Proust), embora ela não tenha conseguido traduzir com o mesmo encantamento o quão duro e único é o processo de amadurecimento. À exceção de Bosco, este sim consciente das próprias decisões (ou falta delas), os demais personagens são bobos, infantilizados e ficam numa lamentação sem fim. Mais uma geração perdida – porque, convenhamos, 1968 ainda não acabou!!
Se há algum mérito no livro, está na perspicácia de Egan em criar uma narrativa com múltiplos personagens, interligando-os através do passado, do presente e do futuro. É o tempo, e somente ele, que trará respostas às inquietações do leitor. Porém, não espere encontrar um texto que vá mudar a sua vida, tampouco um personagem como fonte de inspiração. Em se tratando de A visita cruel do tempo, a melhor dica é: não espere nada. Livro não é sinônimo de prêmio, nem vice-versa. E ponto final.
Oi Helo,
também não adorei o livro, mas acho que ele consegue traduzir muito bem, através da sua forma, a maneira como as pessoas se relacionam hoje em dia. Nos tempos de Facebook e Twitter, onde temos constante acesso à pílulas da vida alheia, acho que as pessoas têm dificuldade em se aprofundar nas histórias. Tanto que, ao longo do livro, só conhecemos um pouco da profusão de personagens que ela nos apresenta. Durante a leitura, me lembrei muito de Babel, Alejandro González Iñárritu, e uma série de outros filmes recentes que possuem vários enredos que seguem paralelos.
Acho que sou “das antigas”, porque um dos motivos pelo qual tive dificuldade em ler “A visita cruel do tempo” foi justamente porque não tive tempo para me relacionar com nenhum dos personagens.
Apesar da colcha de retalhos que é o livro, ela consegue construir uma história coerente. Se não foi por causa dessa “nova” forma de narrativa, típica dos dias atuais, que ela ganhou o Pulitzer, também não sei a razão de tantos prêmios… rsrs
Já tinha pensado em fazer um post sobre isso, mas acabei esquecendo… 😉
bjs,
Amanda