SETE PSICOPATAS E UM SHIH TZU: Bandidos à procura de um cão

Colin Farrell e Sam Rockwell em SETE PSICOPATAS

A cena inicial do filme Sete Psicopatas e um Shih Tzu indica para o espectador qual o tipo de filme que virá. Primeiro a câmera identifica o letreiro de Hollywood, e depois enfoca a conversa despropositada e hilariante de uma dupla de gângsteres. De repente, a conversa é interrompida quando uma figura mascarada surge do nada e mata ambos.

Trata-se de um filme que vai explorar os clichês do gênero gangster, especialmente aqueles passados em Los Angeles, e depois virar esses clichês de ponta-cabeça. A “trama”, por si só, é absurda como a de muitos exemplares do gênero.

Cena de SETE PSICOPATAS

Martin (Colin Farrell) é um roteirista com uma vaga e interessante ideia para um filme, os “sete psicopatas” do título. Porém, ele se envolve com loucos de verdade quando seu amigo Billy (Sam Rockwell) e o parceiro deste, Hans (Christopher Walken) sequestram o cachorro de um perigoso bandido, Charlie Costello (Woody Harrelson).

Billy e Hans se especializaram no golpe de roubo de cachorros, posteriormente devolvidos a seus donos. Estes, de tão comovidos por recuperar os bichinhos, pagam recompensas aos seus “salvadores”. Porém, ao roubar o adorável shih tzu de Charlie, descobrem que mexeram com o amante de cães errado… No meio tempo, eles tentam ajudar Martin a terminar seu roteiro.

No comando do filme está o talentoso cineasta Martin McDonagh, que já havia trabalhado com Colin Farrell no ótimo Na Mira do Chefe (2007). Mas McDonagh não quer apenas fazer outro longa do gênero. Na verdade, em Sete Psicopatas o diretor está mais preocupado com a criação artística – esse é o verdadeiro assunto do filme. Nas cenas com o trio escondido no deserto, trabalhando no roteiro de Martin e concebendo um final hilariante e absurdo, o espectador ri dos clichês e das loucuras frequentemente vistos em filmes de ação. O filme nos deixa ver os clichês e os ridiculariza, para pouco depois sucumbir a eles.

Woody Harrelson e Christopher Walken em SETE PSICOPATASEntretanto, essa abordagem intelectual nunca realmente se harmoniza com o aspecto gangster do filme. A concepção do roteiro de Martin dilui a trama envolvendo o cão e seu dono violento. Consequentemente, o filme só funciona em partes – e há cenas inegavelmente brilhantes, como a história do casal assassino (contada pelo personagem do cantor Tom Waits, que de vez em quando trabalha como ator), o “tiroteio final” concebido pelo insano Billy, o destino final do psicopata vietnamita… Mas, como um todo, é como se Pulp Fiction (1994) de Quentin Tarantino se misturasse com Adaptação (2002) de Spike Jonze, e um tirasse a graça e a força do outro.

O que realmente segura tudo é o elenco, embora não haja nenhum personagem realmente memorável – e isso é um problema nesse tipo de filme. As melhores atuações são as de Sam Rockwell (cada vez mais insano à medida que a história progride) e as de dois veteranos malucos de Hollywood, Christopher Walken e Woody Harrelson (e a tensa cena entre os dois é uma das melhores do longa).

Muitos dos melhores momentos de Sete Psicopatas são na verdade vinhetas, pequenas cenas isoladas e engraçadas que, unidas, servem de base para a narrativa. É um filme de muitas ideias, e numa época em que elas estão em falta no cinema, só a existência de um projeto diferenciado como este merece aplausos. Mas o fato é que o próprio Pulp Fiction já havia executado, com mais competência e facilidade, a proposta de Sete Psicopatas. O Grande Lebowski (1998), dos irmãos Coen, também. Sete Psicopatas até diverte, mas nunca será um Pulp Fiction ou um O Grande Lebowski.

setepsicopatas_2

FICHA TÉCNICA:

Título: Sete Psicopatas e um Shih Tzu (Seven Psychopaths)

Dirigido por Martin McDonagh

Gênero: Comédia

Ano: 2012

Nacionalidade: Estados Unidos

Cotação: ★★★  Bom

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