O Inocente, de Ian McEwan

o-inocente---ian-mcewan_4379961_113710Recentemente, resenhei Serena, o último romance de Ian McEwan, lançado durante a Flip de 2012. A trama de espionagem já tinha sido tema, vinte anos antes, para um outro livro do autor inglês, ‘O Inocente’. O livro, que foi lançado no Brasil pela primeira vez em 1992, aproveita o contexto da Berlim pós-Segunda Guerra para contar a história de Leonard Marnham.

Em meados da década de 1950, Marnham, um típico inglês, cortez e reservado, é enviado para a capital da Alemanha Ocidental para trabalhar num projeto dos serviços de inteligência dos EUA e do Reino Unido. Uma vez na cidade – ainda em ruínas-, uma série de acontecimentos faz com que ele coloque em xeque sua timidez e inocência. Além de lidar com as idiossincrasias dos americanos e da constante suspeita dos soviéticos – que estavam logo ali na cidade dividida, mas que ainda não tinha um muro -, Leonard acaba se envolvendo com uma alemã, Maria Eckdorf. O relacionamento com ela vai se provar muito mais complicado que a rede de espionagem e intrigas que cruzavam as fronteiras entre Alemanha Ocidental e Oriental.

Após o período de descobertas, típicas de um jovem que vai morar sozinho pela primeira vez, Leonard acaba se envolvendo, junto com Maria, numa confusão que poderia se passar em qualquer lugar do mundo ou da história, mas eles estavam no lugar errado, no momento errado. Por estarem no epicentro da Guerra Fria, suas escolhas acabaram ganhando contornos cruéis, de requintes macabros. A segunda metade do livro é uma leitura tensa, dessas que conseguem atrapalhar o sono. McEwan mostra como a vida pode mudar de uma hora para outra e que, depois que tomamos algumas decisões, não podemos voltar atrás.

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Um livro de Ian McEwan é sempre uma boa leitura. Em ‘O Inocente’, ele dá mostras da maestria que expôs em ‘Sábado’ (Cia das Letras, 2005), para narrar a tensão psicológica dos personagens. A narrativa é ao mesmo tempo agradável e inquietante. Sua atenção aos detalhes, como sempre, é muito grande, tanto na descrição de cenas brutais, quanto na contextualização da cidade (os caminhos feitos por Leonard são tão detalhados, que nos sentimos locais) e do período (a lista de músicas da época citadas dão o tom à primeira metade do romance).

A história é perfeita como roteiro de um filme, tão perfeita que já foi adaptada para o cinema. Soube disso ao fazer a resenha, então ainda não conferi o resultado do filme, que tem Anthony Hopkins e Isabella Rossellini no elenco. O próprio McEwan, que foi responsável pelo roteiro, não gostou da versão para as telonas, então nem adianta criar expectativas. ‘O Inocente’ pode não ser o melhor livro de McEwan, mas ele sempre surpreende pela facilidade que tem em contar histórias e envolver o leitor.

Amanda - assinatura PNG

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