Por mais que os fãs e os leitores dos quadrinhos Marvel gostem do Homem de Ferro, não há como negar que ele, por muito tempo, não passou de um personagem de segundo escalão no universo da editora. No entanto, hoje ele é um dos heróis mais importantes da Marvel, graças, principalmente, ao sucesso da sua primeira aventura cinematográfica. Homem de Ferro (2008) foi genuinamente engraçado e emocionante, e nos apresentou a Tony Stark e à inspirada personificação do ator Robert Downey Jr., criada por meio de uma mistura do personagem das HQs com uma boa dose da sua loucura particular.
O problema com o Homem de Ferro é justamente o paradoxo da sua condição: era pequeno, mas ficou grande demais no cinema, e tudo ao redor dele teve de ser amplificado. Isso é comprovado por Homem de Ferro 3, nova aventura-solo do herói, a primeira após o megassucesso de Os Vingadores (2012), longa que reuniu os heróis Marvel no cinema e representou um evento sem igual para os fãs.
Neste novo filme, Stark está passando por uma crise psicológica, desencadeada após a batalha em Nova York contra os alienígenas em Os Vingadores. Surgem, então, dois novos inimigos para atacá-lo: o cientista Aldrich Killian (Guy Pearce), detentor da tecnologia regenerativa Extremis, capaz de criar um exército de supersoldados; e o misterioso terrorista conhecido como “Mandarim” (Ben Kingsley). Juntos, os vilões destroem a mansão Stark e deixam o herói com poucos recursos para impedir o seu plano catastrófico.
No comando deste terceiro longa, houve uma mudança: saiu o diretor dos anteriores, Jon Favreau, para a entrada de Shane Black. Favreau, no entanto, atua no filme no papel do segurança Happy Hogan. Black, ainda hoje mais conhecido como roteirista de alguns sucessos dos anos 80, como o primeiro exemplar de Máquina Mortífera (1987), tem um bom relacionamento com Robert Downey Jr. – ambos já haviam trabalhado no divertido Beijos e Tiros (2005). No entanto, a mudança nem é percebida, pois o tom da aventura é o mesmo das anteriores e, a essa altura, a série já se solidificou dentro de uma “fórmula”.
Percebe-se, no roteiro, uma tentativa de retornar ao básico. Tony Stark passa grande parte da história sem armadura, tendo que se virar (por que ele não pede ajuda do pessoal da SHIELD, de Os Vingadores, é um mistério…). Ainda assim, um filme do Homem de Ferro não consegue mais ser leve e despretensioso. Não há mais poucas armaduras, como havia no primeiro – agora, há dezenas delas, e vários personagens as usam. O diálogo cômico, que funcionou tão bem anteriormente, se torna excessivo – fica difícil levar a sério qualquer situação ou sentir tensão se os personagens fazem piadinhas a cada dois minutos.
E, por mais cativante que seja a interpretação de Downey Jr., Tony Stark é um personagem limitado. Ele não pode mudar ou evoluir, afinal nós gostamos dele como é: egocêntrico, maníaco e irresponsável. Sem personagem, o que sobra no longa é a trama. E esta não resiste a muito escrutínio, sendo repleta de clichês dramáticos: A motivação do vilão Killian é a batida vingança, e os infectados pelo Extremis possuem os óbvios “olhos vermelhos” para indicar sua maldade. Além disso, a forma como o roteiro trata um dos vilões – um dos maiores antagonistas do herói nas HQs – promete deixar irados alguns fãs…
Homem de Ferro 3 conclui com uma sensação de encerramento. Caso assim seja, será uma coisa positiva: é a hora certa de parar, pois nota-se que as aventuras do herói já não apresentam mais nada de novo. O histórico da Marvel, no cinema, permanece consistente. Nenhum dos seus projetos chega a ser uma obra-prima, mas também nenhum chega a ser ruim ou inassistível – embora este chegue perto. No cinema, a Marvel possui uma mentalidade corporativa – eles não se arriscam, sempre oferecem aquilo que os fãs desejam ver, de forma segura. Em Homem de Ferro 3 não há mais risco, apenas mais do mesmo. E cinema sem risco não oferece muita emoção.
Título: Homem de Ferro 3 (Iron Man 3)
Dirigido por: Shane Black
Gênero: Aventura/Fantasia
Ano: 2013
Nacionalidade: EUA
Avaliação: ★★ Regular