Clint Eastwood é provavelmente a maior lenda viva do cinema ainda em atividade com uma das carreiras mais brilhantes. Ninguém passou tanto tempo quanto ele trabalhando no cinema em diferentes funções: ator, produtor, diretor, músico… Depois de Gran Torino (2008), porém, Eastwood deixou meio subentendido que não voltaria mais a trabalhar como ator, devido a vários fatores: escassez de bons papéis para alguém na sua idade, preferência pelo trabalho de direção… No entanto, Curvas da Vida o fez voltar a aparecer em frente às câmeras.
Na verdade, em Curvas da Vida Eastwood retoma um velho hábito. Ao longo de sua trajetória, ele foi dirigido por amigos e ajudou a projetar carreiras de pessoas que trabalharam em suas produções. Em Curvas, quem estreia na direção é o veterano produtor dos filmes de Eastwood, Robert Lorenz. Contudo, mesmo com a presença chamativa do lendário ator, quem mais se destaca no filme é a atriz Amy Adams, que interpreta a sua filha.
Eastwood faz o papel de Gus Lobel, um veterano olheiro do beisebol encarregado de descobrir novos talentos. Porém, o excêntrico Gus começa a sentir o peso da idade – sua visão já não é a mesma e sua aversão à tecnologia causa problemas junto aos dirigentes do time para o qual trabalha. Uma das poucas pessoas capazes de entendê-lo é a filha, a advogada Mickey (Adams), entretanto a relação dos dois nunca foi das melhores. Quando Gus precisa fazer uma viagem para avaliar um novo jogador, Mickey é meio que “forçada” a acompanhá-lo, pois o time está a ponto de demitir o velho olheiro. Ao longo de alguns dias, e alguns jogos, Gus e Mickey vão descobrir algumas coisas sobre o esporte e se reaproximar…
Tecnicamente, embora a direção de Lorenz seja bem acadêmica e pouco inventiva, a fotografia de Tom Stern se destaca. O diretor de fotografia – e parceiro de Eastwood nos últimos anos – explora as cores e faz um trabalho mais “iluminado” do que os anteriores. Já o roteiro peca pela falta de inovação ao criar figuras clichês, como um antagonista e um interesse romântico para Mickey, vividos respectivamente por Matthew Lillard e Justin Timberlake.
Felizmente, há um elemento capaz de fazer com que Curvas da Vida suba um pouco de nível: a presença de Amy Adams. Sinceramente, hoje, Clint Eastwood consegue fazer dormindo o papel do velho ranzinza e distante. Por isso mesmo é legal ver o astro entregar a Adams o lugar de destaque. Ela é uma daquelas atrizes muito talentosas e capazes de tornar tudo verdadeiro. E graças a ela o filme funciona relativamente bem. Mickey é a protagonista, esta é a sua história e a atriz consegue transmitir a dureza de sua personagem – afinal, filha e pai têm muito em comum –, seu amor pelo esporte e a capacidade para aprender e mudar sua vida.
Curvas da Vida é uma história sobre pessoas jovens aprendendo com os velhos. O filma valoriza a sabedoria dos mais experientes e deixa bem claro que toda a tecnologia e inovação não substitui o elemento humano. Robert Lorenz valoriza o clássico e conta sua história previsível de forma que até pode ser chamada de “careta”. Porém, ele não é a maior força por trás do filme, e sim Clint Eastwood. Foi ele quem ensinou tudo ao novo diretor, e graciosamente cede o palco à jovem companheira de cena. Eastwood fez de envelhecer em frente às câmeras um dos traços mais interessantes de sua carreira, e é bom ver como é possível envelhecer com graça em Hollywood.
Título: Curvas da Vida (Trouble with the Curve)
Dirigido por: Robert Lorenz
Gênero: Drama
Ano: 2012
Nacionalidade: EUA
Cotação: ★★★ Bom