Após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, Osama Bin Laden se tornou o terrorista mais caçado do mundo. Durante quase 10 anos, a caçada prosseguiu, impulsionada por pistas falsas, captura de outros terroristas e informações obtidas por meio de tortura. Bilhões de dólares foram gastos, houve novos atentados terroristas e muita gente morreu até Bin Laden ser finalmente morto numa ação militar em 2011.
Justamente nesta mesma época, a cineasta Kathryn Bigelow, a primeira mulher a receber um Oscar de Melhor Direção – merecidíssimo – por seu trabalho em Guerra ao Terror (2009), começou a desenvolver um projeto sobre a caçada a Bin Laden. Ela e o jornalista e roteirista Mark Boal – o mesmo de Guerra ao Terror – investigaram, conversaram com oficiais da inteligência e militares e, de certa forma, se deixaram levar pelo espírito dos profissionais que procuraram pelo terrorista por todo aquele tempo. O resultado é o eletrizante A Hora Mais Escura, no qual a diretora consegue criar mais um trabalho tenso e repleto de ideias.
O aspecto mais fascinante de A Hora Mais Escura, e da procura mundial por Bin Laden, é que, no centro dela, havia uma mulher. Maya (interpretada com bravura e força por Jessica Chastain) começa o filme despreparada – o agente da CIA e torturador vivido por Jason Clarke comenta, nas cenas iniciais, que ela apareceu “vestida chique demais” para seu primeiro interrogatório. Mas é Maya quem descobre a pista certa, o misterioso contato da Al Qaeda conhecido como “Abu Ahmed”. A determinação da protagonista leva, ao longo dos anos, ao paradeiro de Abu Ahmed, no Paquistão, bem como a descoberta de uma casa, praticamente uma fortaleza meio isolada, onde alguém muito importante estava escondido.
No mesmo estilo de Guerra ao Terror, Bigelow cria uma narrativa tensa, fazendo uso da câmera na mão, uma excepcional trilha sonora e uma montagem ágil e nervosa. Aliás, essa tensão está presente desde o começo, quando o longa inicia apenas com o áudio de passageiros dos aviões dominados pelos terroristas em 11/9 e de pelo menos uma vítima presa dentro de uma das torres do World Trade Center. E de fato, a tensão cresce ao longo da projeção, a ponto de, na meia hora final, acompanharmos a encenação da operação militar que invadiu a casa no Paquistão e matou o líder terrorista.
A diretora conta sua história com honestidade e realismo – talvez isso tenha provocado a controvérsia em torno do filme nos Estados Unidos, especificamente direcionada às cenas de tortura. A tortura existiu e foi parte crucial do processo que levou à morte do inimigo nº 1 dos Estados Unidos. Omiti-la seria um ato de extrema covardia por parte de Bigelow, e a cineasta seria incapaz disso. Portanto, ao vermos em determinada cena o presidente Barack Obama afirmando na TV que “os EUA não torturam, isso é parte do processo para restaurar nossa credibilidade perante o mundo”, essa fala não deixa de representar uma ironia após as cenas vistas na primeira meia hora do filme.
Ao longo de mais de duas horas e meia, o roteiro praticamente jornalístico do filme promove saltos no tempo e divide a narrativa em capítulos, mas essa natureza episódica não impede o desenvolvimento da personagem principal. A sensibilidade de Maya em relação à tortura no inicio do longa vai desaparecendo e sendo substituída pela dureza e obstinação.
E é a obstinação dela que leva a alcançar o objetivo. Apesar disso, não há realmente um festejo após a morte de Osama Bin Laden. Valeu a pena? Kathryn Bigelow, de forma inteligente, deixa a resposta a cargo de cada espectador. O fato é que seu filme ilumina um verdadeiro submundo existente debaixo das relações internacionais. O cinema de Bigelow é como a lanterna dos fuzileiros Navy SEALs adentrando o quarto escuro e expondo o que poderia permanecer escondido.
Título: A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty)
Dirigido por: Kathryn Bigelow
Gênero: Suspense/Ação
Ano: 2012
Nacionalidade: EUA
Avaliação: ★★★★★ Excelente