Meio Ambiente: Do escravo cativo e camponês livre ao ambientalista quilombola

por Jéssica Lauritzen

No dia da Consciência Negra, 20 de novembro, o famoso Quilombo dos Palmares é lembrado, mais precisamente pela figura de Zumbi, considerado um mártir da luta negra pela liberdade. Como centros de resistência a uma sociedade colonial escravocrata e opressora, os “quilombos”, “mocambos”, “comunidades negras rurais” ou “terras de preto” surgiram como ícones de resistência e autonomia à escravidão, ao buscarem uma organização social mais justa.

 Tendo a maioria se estabelecido no meio rural, a relação harmônica que eles mantêm com o meio ambiente e o uso adequado dos recursos naturais é fruto da proposta que sobrevive ainda hoje no seio dessas comunidades tradicionais. Os conhecimentos são passados de geração em geração: as comunidades quilombolas – hoje compostas por descendentes dos escravos que se tornaram camponeses livres nos quilombos – mantêm práticas sustentáveis e seculares, como agricultura de subsistência, técnicas simples de cultivo, pesca feita em canoas e com redes produzidas à mão, além da caça.

“Do Oiapoque (ou Monte Caburaí) ao Chuí”, esses territórios estão presentes em pelo menos 24 estados brasileiros, de acordo com a Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP). Entre eles, estão: Amazonas, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.

No interior do Pará, que abriga cerca de 30 comunidades remanescentes de quilombos, há o Projeto Manejo dos Territórios Remanescentes dos Quilombolas, criado, em 1988, pela Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná (ARQMO) junto à CPI-SP. Entre outras frentes – como defesa dos territórios, capacitação da mão-de-obra e ampliação das oportunidades para as mulheres quilombolas –, o Projeto Manejo investe na educação ambiental e na introdução de técnicas agrícolas sustentáveis aliadas à geração de renda desses grupos. Seu carro-chefe é o Sistema Comunitário de Exploração da Castanha-do-Pará, produto abundante nas matas da região e cuja importância remete ao século XIX.

Esse é apenas um exemplo do que se pode extrair de uma filosofia de vida que abraça o meio ambiente. O trabalho agroecológico desenvolvido pelos quilombolas brasileiros merece destaque especial, não apenas nesta data dedicada à reflexão sobre a Consciência Negra, mas durante todos os anos como forma de reconhecimento àqueles que muito contribuíram para a sociedade, mas, infelizmente, sempre estiveram à margem da História.

Confira aqui um vídeo sobre uma comunidade quilombola do distrito de Lídice, em Rio Claro, no sul fluminense, que pratica agricultura sustentável.

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