Parece consensual que o humor e a irreverência sejam característicos do povo brasileiro. Não por acaso, nossa identidade foi representada pela figura do malandro, que abusa do gingado e do rebolado na hora de driblar situações adversas.
O que causa espanto, contudo, é a overdose humorística que tomou conta da sociedade. Sei-lá-desde-quando, mas de uns tempos para cá, tudo é motivo de escárnio, deboche e chacota. Não há situação séria ou lamentável que não renda uma boa má piada.
Quem duvida do fato, basta dar uma olhada nas redes sociais e notar como as pessoas se esforçam (e muito!) para soarem engraçadas. É o que acontece no Twitter, infectado pelo vírus Rafinha Bastos, ou no Facebook, onde rola uma disputa silenciosa pela foto mais hilária.
Até concordo que a vida deva ser levada com certa dose de humor e que, em dados momentos, só rindo mesmo. No entanto, convenhamos, ainda que rir seja o melhor remédio, ele não é o único. E determinadas circunstâncias exigem um pouco mais de seriedade.
Não dá para votar num palhaço só porque você acredita que Brasília é um circo de picaretas e de mulheres barbadas. Tampouco vejo razão para tripudiar dos correntes desabamentos no Rio, sabendo que famílias estão sendo destroçadas.
Na verdade, nós brasileiros rimos quando deveríamos falar grosso, engrossar o caldo ou ficar indignado. Ao que me consta, o humor é usado por nós como válvula de escape, mediante situações limítrofes. Será por isso que algumas pessoas acham graça em velório?!
Tudo bem que eu também não ando com meu senso de humor muito apurado, principalmente, por conta do grave acidente ocorrido com a minha mãe. Ainda assim, preciso desabafar a respeito do placar entre Vasco e Fluminense ontem: “Só pode ser piada!”