Palavras Econômicas

Em tempos de crise financeira, bolsas de valores despencando, países endividados; lembrei-me de uma moeda que há tempos anda desvalorizada: as palavras. Moeda?! Sim, dessas que a gente dá e não espera o troco, gasta com futilidades e ainda costuma investir nos momentos mais inoportunos.

A julgar pelos últimos eventos, parece que o hábito de tropeçar na língua ganha cada vez mais adeptos. Do contrário, Nelson Jobin não teria perdido o cargo de ministro da Defesa e a deputada Myrian Rios não teria sido obrigada a explicar a (terrível, digamos assim) associação feita entre pedófilos e homossexuais. O deputado Romário também não teria ‘rasgado’ o verbo ao ser surpreendido numa blitz da Lei Seca, tampouco a cantora Sandy estaria vivendo os desprazeres de seu lado ‘devassa’.

Da lista, não escapou sequer o presidente americano Barack Obama que, contrariando o rebaixamento dos EUA pelas agências de rating, afirmou que o país continua sendo ‘AAA’. Como você pode ver, hoje, além das cifras, o grau de confiança dos credores vem acompanhado por vocábulos. Letrinhas que, sem exageros, têm peso de ouro.

E como toda moeda, as palavras estão sujeitas a períodos de oscilação que nenhum economista (ou linguista) é capaz de explicar. Ou alguém saberia dizer porque a gente economiza com o “Bom dia”, o “Com licença”, o “Por favor”, o “Desculpa” e o “Muito obrigado”; mas não poupa uma sílaba na hora de ofender, cometer injúrias, blasfemar, acusar ou mesmo soltar um daqueles palavrões abomináveis? Vergonhoso, não?!

Eventualmente, a balança também pende para o outro lado. Submetemos as palavras a uma taxa de juros tão elevada que na maioria das vezes não conseguimos quitar a dívida. Será que é por isso que a pessoas vivem dizendo “Vou te amar para sempre”, mesmo sabendo que há chances de encontrar um novo amor? Ou “que tudo vai ficar bem”, quando o pior ainda está por vir? Ou ainda: “Eu tenho um plano”, quando se meteu numa tremenda enrascada?

No fim, ficam-se as prestações e lá se vai o crediário por conta daquela máxima de Benjamin Franklin: “O bom pagador é dono da bolsa alheia”. Há quem pense que tudo se resolva pelo viés da educação.  Pode até ser. O dicionário, por exemplo, está aí para oferecer um mundo de possibilidades, embora insistamos em repetir sempre os mesmos verbetes, e a vida a nos ensinar às duras penas o quanto estamos enganados.

Sei não, mas tenho a impressão que o buraco é mais embaixo, apesar de não saber ao certo o tamanho e a profundidade dele.  Não é fácil entender (e justificar) porque o ser humano se cala diante das injustiças, fica mudo quando se depara com uma situação que o amedronta ou não encontra as palavras certas para dizer aquilo que está sentindo. Trocando por miúdos: fica tudo engasgado.

É por essas e outras que invejo o talento de Roland Barthes, que mesmo formado em Letras, passou a frente de muitos economistas com a famosa frase: “Uma imagem vale mais que mil palavras.” E numa semana em que tivemos passageiros reféns em ônibus no Rio, juíza assassinada em Niterói e explosão de conflitos em Londres, pelo menos uma imagem deveria ficar:


                

 

A favor do silêncio, despeço-me sem mais palavras: Oxalá!

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