Ibraim Roberson e o Mundo dos Quadrinhos

De administrador de empresas a quadrinista da DC Comics e Marvel. Na semana dos quadrinhos, o Blog 7em1 trocou figurinhas com Ibraim Roberson, ilustrador do Guia de Sobrevivência aos Zumbis, de Max Brooks. Leia a nossa entrevista e saiba o que Ibraim tem a dizer sobre tirinhas, profissão e mercado editorial no Brasil e no exterior.

Blog 7em1: O seu interesse por quadrinhos surgiu na infância. Quem são os ilustradores que influenciaram seu trabalho?

Ibraim Roberson: Fui influenciado por muitos artistas de diversas maneiras diferentes. Travis Charest, Jim Lee e Alan Davis, por exemplo, sempre foram inspiração no modo como eu desenho as pessoas. Já artistas como George Perez, Brian Bolland e Bryan Hitch são referências para mim na hora de desenhar cenários e enquadramentos, enquanto Frank Miller e José Luis García-López são grandes influenciadores no modo como eu trabalho a narrativa. Outros artistas me influenciaram de uma maneira mais subjetiva, como é o caso do Mike Deodato, Joe Bennet, Roger Cruz e muitos outros artistas brasileiros que, de certa maneira, me fizeram sentir que era possível algum dia vir a trabalhar nesse ramo. Eu sempre lia artigos e entrevistas em que eles compartilhavam experiências do trabalho e contavam histórias do início de carreira.

Blog 7em1: Você se considera um quadrinista genuinamente brasileiro? Como você define as principais características do seu traço?

Ibraim Roberson: Não vejo meu estilo como algo exclusivo ou com alguma reminiscência do Brasil. Eu leio comics desde que eu era criança. Então meu traço lembra mais o que é tradicionalmente feito nos EUA. Mas definir algum trabalho artístico é sempre difícil porque depende de como cada um vê a obra final. Eu caracterizaria meu traço como algo mais voltado para o realismo. Meu ponto forte é o uso de texturas através do preto e branco com tons de cinza, o que não é formato básico dos quadrinhos americanos, que costumam ter linhas fortes e definidas para emular as sombras e variação de texturas.

Guia de Sobrevivência aos Zumbis, ilustrado por Ibraim

Blog 7em1: Antes de ilustrar o Guia de Sobrevivência a Zumbis, você trabalhou como professor, foi funcionário de galeria de arte e até administrador de empresas. Quais são os maiores desafios (e dificuldades) para quem desejar se profissionalizar como quadrinista?

Ibraim Roberson: Sim, começar como desenhista de quadrinhos, ainda mais vivendo fora dos Estados Unidos, com certeza leva um tempo. Eu tive algumas profissões antes de conseguir de fato trabalhar nesse mercado tão restrito. Meu maior desafio foi encontrar tempo para fazer páginas de amostra para as editoras. Com trabalho, faculdade, família e tudo mais; é muito difícil conseguir espaço para se dedicar a uma coisa que requer tanto cuidado e concentração. Normalmente é a vida social que sofre mais. Eu tive que deixar de fazer muitas coisas com amigos e família para usar esse tempo nos desenhos. E para quem está tentando entrar no mercado, o maior teste será o de persistência. São desenhistas do mundo todo concorrendo com você por uma vaga, ou seja, é um mercado muito competitivo. Você tem de estar sempre se atualizando e atualizando o seu portifólio. Muitos editores vão dizer que você não está pronto, muitas pessoas vão apontar falhas no seu trabalho ao longo desse período. Então é importante saber digerir bem as críticas e se aprimorar.

Blog 7em1: Você já assumiu que zumbi é um dos seus temas favoritos. Que outro tipo de personagem você curte ou gostaria de desenhar?

Ibraim Roberson: De fato zumbis é um dos meus temas favoritos para filmes, livros, gibis etc. Eu também gosto muito de super-heróis, mas estes eu já desenho bastante. Outra coisa que eu adoraria um dia poder trabalhar seria uma história com mais fantasia, com monstros, dragões, princesas e gnomos. Gostaria também de arranjar um tempo para desenvolver algo um pouco surrealista, envolvendo níveis de realidade diferentes. Seria mais como um exercício artístico mesmo, uma espécie de desafio.

Blog 7em1: Roger Cruz e Mike Deodato são outros ilustradores brasileiros que, assim como você, ficaram conhecidos no exterior. Vocês têm estilos parecidos? De que maneira a fama internacional pode incentivar a produção nacional de quadrinhos?

Ibraim Roberson: Os nossos estilos são bastante distintos. O Roger tem um traço com muita influência dos mangás, já o Mike tem um estilo mais clássico, com contrastes fortes de preto e branco, enquanto eu tenho um estilo mais focado no acabamento realista. Esta é uma qualidade importante dos quadrinhos, esta diversidade e abertura que existe para expor conceitos através da imagem. Nós três já desenhamos os mesmos X-Men, por exemplo.

Da esquerda para direita:  X-man desenhado por Mike Deodato, Roger Cruz e  Ibraim Roberson

Blog 7em1: E qual é o perfil do leitor que se interessa pelos seus quadrinhos?

Ibraim Roberson: O tipo de quadrinho que eu faço, normalmente é consumido por jovens e adultos, porém a cada dia mais esses perfis vêm se alterando e, ultimamente, as pessoas mais diversas têm entrado em contato com os quadrinhos.

Blog 7em1: Existe algum preconceito contra esse tipo de literatura?

Ibraim Roberson: Há alguns anos existia um preconceito maior, porém, hoje, as pessoas estão bem melhores informadas do que de fato são os quadrinhos. E com todos os filmes e adaptações que são feitas baseadas em quadrinhos, as pessoas agora enxergam a importância dessa mídia e também o seu potencial.

Blog 7em1: Apesar da publicação de histórias em quadrinhos no Brasil ter começado no século XX, o mercado editorial continua dominado pelos americanos, europeus e japoneses. A que se deve tal preferência? O que é preciso para se destacar como quadrinista?

Ibraim Roberson: Há muito espaço no Brasil para dezenas de tipos de abordagens no campo dos quadrinhos. Eu não acho que os americanos e os japoneses tomam o espaço de quem compraria uma boa revista feita totalmente no Brasil. Tem lugar para todo mundo e quanto mais quadrinistas houver, melhor. E para fazer um quadrinho brasileiro eu não creio que seja necessário reinventar toda a linguagem ou criar algo diferente. Os cineastas no Brasil usam as mesmas câmeras que usam os cineastas americanos, então é possível fazer um bom trabalho aqui usando uma estética já consolidada em outra parte do mundo. É o que o Maurício de Souza fez com a Turma da Mônica, em mangá, por exemplo, e foi muito bem sucedido. E os americanos têm marcas muito fortes como Homem-Aranha, Batman, X-Men, algumas que foram criadas a mais de 60 anos.

Turma da Mônica, de Maurício de Souza

Blog 7em1: Ao contrário do que acontece com as tirinhas, que têm características nacionais muito marcantes, como a acidez política, é possível identificar um estilo específico nos quadrinhos brasileiros?

Ibraim Roberson: Se existisse uma produção constante local, além da Turma da Mônica e das tirinhas mesmo, como você disse, seria possível identificar algum padrão que denunciasse um estilo específico, mas infelizmente isso não acontece. Porém, eu vejo nos EUA, que até alguns anos atrás tinha um estilo mais ‘carimbado’, a abertura para novos tipos de artistas. Inclusive, a temática é enorme hoje em dia. Então acho que a tendência natural é que cada vez mais as pessoas se preocupem menos com o estilo em si e mais com o modo como as imagens se encaixam ao texto e à mensagem ou idéia que a história se propõe a passar ao leitor.

Blog 7em1: Você tem ilustrado trabalhos para a DC Comics e a Marvel. Tem projetos de criar personagens próprios?

Ibraim Roberson: É muito divertido trabalhar com os personagens com os quais eu cresci lendo e até assistindo na TV. Contudo, eu tenho sim alguns projetos próprios nos quais eu espero encontrar um tempo em breve para me dedicar. Não só personagens em si, mas histórias e conceitos que eu gostaria de explorar intensamente.

Se você gostou da entrevista, comente! E se quiser saber mais sobre o trabalho do Ibraim Roberson, acesse: ibraimroberson.com

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